O helicóptero é tão versátil que pode colocar a gente em situações muito complexas
Quem vai dizer o que aconteceu são as investigações que o pessoal do CENIPA vai disponibilizar pra gente futuramente.
Mas gosto de aproveitar alguma situação extrema pra conversar sobre nossas operações de helicópteros.
Quem nunca pousou em grupo ZZZZ? Acha que gasta saliva suficiente quando coordena um pouso em localidade não homologada? Quem nunca duvidou da capacidade do pessoal de terra que nos atendem em determinadas localidades homologadas? Vc sempre dá o briefing aos passageiros antes de decolar? Ok, pode até encher o saco repetir toda hora, mas e nas situações onde vc vê um rosto novo embarcando? Vc brifa?
Resposta “sim” pra tudo?
Beleza.
Então vamos por partes.
1 – O helicóptero é tão versátil que pode colocar a gente em situações muito complexas.
2 – A operação de segurança pública é ainda mais complexa que a nossa, por não ter vivido o que esses caras vivem, nem me atrevo a comentar nada.
3 – Se vc voa helicóptero deve ter recebido vídeos e fotos de outros ângulos desse acidente no Acre, mas escolhi esse, justamente pq mostra o que eu quero comentar:
– O tripulante que está na cabine de passageiros deve ter sido arremessado pra fora do helicóptero no momento do impacto e, a primeira coisa que ele fez, foi voltar pro helicóptero. Agachado.
Percebe qual foi o foco desse tripulante? Se abrigar do rotor principal. O cara é safo!
O ponto crucial que eu quero discutir é o briefing. Um bom briefing pode diminuir demais os infortúnios de um comandante que passar por um infortúnio.
Pra quem?
Pra todo mundo. Começando pelos passageiros, passando por um eventual bombeiro e chegando a todo o pessoal de terra. Todo!
O passageiro tem que embarcar acreditando que o lugar mais seguro que existe no caso de um pouso forçado é dentro do helicóptero.
Quando o rotor parar de girar, o melhor lugar é fora dele e o passageiro tem que saber que só os olhos nos olhos do piloto é que vai dizer qual é o momento certo pra sair.
Já dei muito briefing pra bombeiro em helipontos afastados e que não recebem helicópteros com frequência. Vários gravaram o papo.
– Vc sabe o que fazer em situações normais? Sabe como orientar um passageiro que embarca ou desembarca? Sabe que o passageiro é imprevisível e pode dar a volta pelo lado errado? Sabe o que fazer numa emergência qlqr? Sabe o que fazer com esse extintor em caso de fogo?
– Olho no olho do piloto. Ele vai te orientar.
É interessante a gente ter sempre em mente que: quem não está habituado com helicópteros não faz ideia dos perigos dos rotores.
Muito barulho e ar turbilhonamento, misturado com uma situação nova, faz muita gente não ver o perigo com clareza.
Se vc estiver lendo e imaginando situações que já passou e que poderia ter passado, pensando como evitar um mal maior, atingi meu objetivo. O textão acabou.
Sinto muito pelos colegas do vídeo que passaram por esse susto.
Bons voos pra gente!
Abraço
Flemming
Coletivo prá cima. Cíclico a frente.
Aviador Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.
Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º Gav – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicótpero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáutica de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR