Adolph Chucrutes, meu amigo alemão !
“Pensar nos aproxima”
‘Heil Hitler! Um nazista no batalhão’
No início da década de 70 tínhamos uma turma boa na Vila Militar no Bairro Amambaí, éramos mais de 30 filhos de oficiais do Exército e da Aeronáutica, pela manhã pegávamos o ônibus verde escolar do Exército, assistíamos as aulas nos colégios de Campo Grande-MT, a maioria de nós estudava no Colégio Salesiano Dom Bosco e à tarde íamos para o Círculo Militar planejarmos o que fazer.
Jogávamos futebol em quase todos os quartéis, pois sempre o pai de alguém do grupo era comandante de uma unidade, até na Base Aérea com exceção de quando tinha treino do ASAS Esporte Clube.
Começamos a frequentar um campo enorme de chão batido no final da Avenida Bandeirantes, lá tinha um garoto alemão que era dotado de 3 parafusos a mais ou 2 a menos, ficava de gandula atrás de nosso gol, deveria ter em torno de 21 anos, portanto era bem mais velho do que todos de nossa turma.
Seus pais e avós tinham vindos fugidos de Berlim-Alemanha e da Segunda Guerra Mundial.
Ele começou a acompanhar nossa turma até o Círculo Militar, como não era sócio, ficava do lado de fora nos olhando praticar atividades físicas, aquilo era de cortar o coração. Um dia eu disse ao grupo: – O cara gosta de ficar conosco, tem uma deficiência mental, um pequeno retardo, vamos colocá-lo em nossa turma e passá-lo para dentro do clube, será o nosso mascote.
Dito e feito, na próxima vez que foi para o Círculo Militar, chegou lá usando um capacete original alemão do pai que tinha sido soldado nazista no início da Segunda Guerra Mundial. Colocamos o nome dele de Adolf Chucrutes, e confesso que fiquei feliz com ele no grupo, pois meus bisavós por parte materna são alemães e eu sempre fui apaixonado pela Luftwaffe e pelos aviões Messerchimit 109 e o Folk Wulf 190, Heinkel 111, etc.
Resolvemos que ele teria que fazer algo errado em benefício da turma para ser batizado definitivamente.Estava marcado para o final de semana na quadra de futebol de salão da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro um Bingo com vários prêmios, o primeiro prêmio era uma leitoa de tamanho médio. A porquinha ficava num chiqueiro de madeira improvisado próximo a uma das traves.
Chamamos o Adolf e dissemos:- Para fazer parte de nossa turma você tem que andar com esse capacete alemão autêntico por onde formos! E para iniciar, além disso, você precisa arrumar uma corda e roubar aquela leitoa do Bingo dos padres redentoristas americanos. Daremos apoio a você, estaremos te esperando na esquina! Entendeu Chucrutes? Ele respondeu: – Chucrutes entendeu…Chucrutes entendeu…Chucrutes tem que roubar a leitoa do Bingo…amarrá-la…e arrastá-la para fora da quadra…! Resmungamos: – Isso mesmo tirá-la de lá! Ele fez o serviço com perfeição.
Pois bem, contratamos o carroceiro senhor Carmo, ajudava os militares com mudanças e pequenos serviços junto com seu cavalo Beiçudo.Dissemos a ele que tínhamos comprado a leitoa para ele realizar o frete sem problemas. Levamos a leitoa de carroça lá para o Bairro Santo Amaro, nas imediações do cemitério, a esposa de um sargento assou a leitoa e nós levamos as cervejas, foi um banquete delicioso.
Os padres redentoristas sem a leitoa, substituíram o prêmio furtado por um filhote de Buldogue doado por um dos fiéis. Além de eu assistir missa obrigatória toda sexta-feira no Colégio Dom Bosco, minha mãe me levava aos domingos à missa das 7h na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sentávamos nos primeiros bancos, e o padre americano com cara de poucos amigos não tirava os olhos de mim, devia pensar:- Esses caras da Vila Militar roubaram minha leitoa, e esse fdp dever ser um deles, com certeza!!PS: Mudamos da Vila Militar, nunca mais vi o Adolf Chucrutes, de tanto andar conosco, deve ter pirado de vez….! Vivemos bons momentos juntos…! Heil Hitler…!
Coluna de JPassarelli
Cmte. José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de Voo
Aerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota