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Acidente com o Helicóptero Sikorsky S76B Matrícula N72EX / Piloto Helicóptero Ruy Flemming

Voa sozinho em uma máquina com essa complexidade na cabine contribuiu para o acidente ?

Vira e mexe a gente bate papo sempre que algo ruim que acontece na aviação.

Não tenho a menor intenção de fazer qualquer avaliação ou juízo de valor sobre o voo que terminou em tragédia nos EUA e levou o piloto, um astro do basquete e todos os demais a bordo.

Sempre prefiro os Relatórios Finais de Acidentes Aeronáuticos pra entender o que aconteceu com o piloto que saiu de casa pra voltar pra casa e não voltou.

Mas vamos aproveitar a situação pra jogar uma conversa fora?

Por favor, me corrija se estiver errado.

Entendi que o voo estava IMC (Condições Meteorológicas por Instrumentos, em inglês). Uma máquina voando a 1.500 pés perto de um aeródromo que tinha um teto de 1.100 pés, é provável que o piloto não estivesse vendo o chão.

Provável. Vamos aguardar.

A controladora pede pro piloto informar quando estivesse em condições visuais.

– VFR conditions, foi a resposta.

Vamos trazer a questão pras nossas operações?

– Aeronave que está na barra desde 1991. Qual é o problema?

Nenhum. Desde que as manutenções tenham sido seguidas à risca.

– Perece que o piloto voava Single Pilot.

Voar sozinho uma máquina dessa complexidade? Pra que?

Na boa.

Vai ter gente me crucificando, mas não vejo um Single Pilot em máquinas complexas como a melhor forma de economizar.

Quando o vendedor de uma máquina vende parece que ele não fala com o cara que projetou a aeronave.

O que o Single Pilot vai fazer quando acender uma luz no painel?

O único piloto a bordo vai olhar pra luz que acendeu? Ou será que vai continuar voando a máquina?

Vou dizer a vc o que acontece numa máquina dual pilot quando acende uma luz importante, seja em condições visuais, ou por instrumentos: um voa a máquina, outro resolve a pane.

Simples assim. Exatamente como treinado em simulador de voo.

Outra pergunta, o que o instinto do piloto vai dizer a ele quando algo der errado? Como o piloto vai reagir ao seu instinto?

Antecipadamente peço desculpas a quem investiu alguma tonelada de reais, ou dólares, numa máquina de voar e insiste em voar Single Pilot, pq acreditou no vendedor e não ouviu o projetista.

#1- Voar com dois não garante uma vida longa e profícua, mas garante uma boa divisão de tarefas na cabine, num momento ruim;

#2- Não. Voar com um só piloto, definitivamente, não é a melhor opção. Um copila dá pra encontrar numa boa escola. É barato e vai fazer toda a diferença quando der tudo errado. Pega um novinho! Esse cara vai, pelo menos, voar a máquina enquanto o antigão resolve a pane.

#3- Precisamos de descidas IFRH em vários destinos. Já conversei com colegas do ICEA, DECEA, SRPV e entendi que descidas IFRH são possíveis pra gente. Pq não tornar tudo isso realidade? Se quiser bater um bom papo, franco, aberto, explico detalhadamente até onde cheguei e, a partir desse ponto, onde podemos chegar.

#4- Bota a mão na consciência. Quem não declarou VFR voando IMC? Sabe o que aconteceu? Os pontos das REA estão na AIC. Os pontos das REH, não. É uma clara discriminação a pilotos de helicópteros quando colocados frente a frente com acidentes envolvendo aviões.

Triste.

Não. Jamais declare VFR se estiver IMC.

Não sei o que aconteceu no voo com o astro do basquete dos EUA.

Só as investigações vão dizer.

Na boa?

Se eu pudesse chutar um Fator Contribuinte, certamente apontaria para a falta de um copila.

Um voa. Outro resolve.

CRM.

Simples assim. Barato e ajuda a garantir uma vida longa.

Bons voos pra todos nós!

Assista ao vídeo e depois me fala:

Se vc encara a aviação como um meio de vida e não de morte, vai entender esse artigo.

Abraço e bons voos,

Flemming

Coletivo prá cima. Cíclico a frente.

Aviador Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.

Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º Gav – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicótpero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –

Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáutica de asa fixa ou rotativa.

Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR

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