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Acrobata Aéreo…mas nem tanto… / AeroJota Classificados Aeronáutico.

Relato de uma Acrobacia Aérea com um Avião Decathlon

Certa ocasião encontrei aqui em Campo Grande-MS no Banco do Brasil com o coronel de artilharia do Exército Brasileiro Tabosa, comandante do Forte Coimbra-MS, éramos amigos, e conversa vai conversa vem ele me convidou para fazer acrobacias no aniversário de Forte Coimbra, combinamos o valor e me preparei para voar para lá. Um amigo meu de infância lá da Vila Militar no Bairro Amambaí ficou sabendo que eu iria voar lá no glorioso Forte. Pediu para ir comigo, não tinha como negar, disse a ele:
– Wagner? Esteja no aeroporto às 6h, pois temos que sair cedo, daqui lá são 196 milhas náuticas!

Cheguei no aeroporto no dia marcado bem cedo e ele já estava lá, todo alegre, rindo até de desgraça, parecia uma criança.

Nos dirigimos para a sala de instruções para eu colocar o macacão de voo. Quando ele viu que tinha mais macacões falou-me: – Passarelli? Deixa eu usar um macacão desse, quero chegar lá como piloto de acrobacias também! Sorri e respondi: -Tudo bem Wagner, escolha o mais folgado senão você se sufoca com o calor!

Ele vestiu o macacão e ficou no espelho se olhando, enamorado, feliz da vida em ser piloto de show aéreo, mesmo que por um dia. Fiz as recomendações a ele no caso de abandono do avião, pane, acionamento da carlinga, incêndio, pouso forçado, fadiga estrutural, etc., um briefing geral antes da decolagem de Campo Grande. Nos posicionamos na cabine, ele sentou na frente e eu atrás, ciclamos a porta, colocamos os capacetes e regulamos e testamos os fones de ouvido. A Torre Campo Grande autoriza o giro do motor do Decathlon Acrobático, seguro o bicho nos freios e aciono o funcionamento do agradável som, a hélice começa a circular no sentido horário da minha visão interna da carlinga, vou seguindo o checklist, luz de giro, luzes da navegação, luz de táxi, as luzes estroboscópicas deixo para ligá-las quando entrar na pista de decolagem. Começo o táxi para a pista 24 do SBCG na velocidade de 20 nós, fico bastante emocionado também, o cheiro de óleo e de combustível de avião enchem minhas narinas de prazer, algo impossível de descrever, fico pensando nos pilotos da Segunda Guerra Mundial, os americanos e alemães, aqueles sim eram machos de verdade, mais uma vez estou enfrentando o medo, aprendi na vida que a sorte segue a coragem, a adrenalina é imensa, fico imaginando a quantas batidas o coração do Wagner está dando por segundo? 100, 200, 300, 500, ou mais..rsrsrs!

Chego na cabeceira 24, posição três e pergunto ao meu copiloto: – Tudo bem Wagner? Ele responde meio que gaguejando de euforia: – Ok, comandante Passarelli! Faço o Before checklist, todos os ponteiros no verde! A Torre CG autoriza a decolagem! Seguro meu pequeno caça nos freios, calibro o altímetro em 1019,18 milibares e começo a dar motor, o equipamento ganha vida, solto os freios e ali começa a loucura em cima da vida, visto o avião em mim, me sinto um piloto americano de Mustang P-51 ou mesmo um caçador alemão em um Messerchimitt 109 em 1945. Atinjo 90 nós, puxo levemente o manche e minha águia de rapina deixa o solo, ganho velocidade e altitude rapidamente e inicio a curva para à esquerda na direção oeste, voando diametralmente oposto ao sol nascente, vou aproando em 280° e faço novo checklist aferindo os instrumentos e escravizando o altímetro em 1013 hectopascais. Estamos nivelando em 9500 pés (2900 m).

Após voarmos um bom tempo, começo a visualizar o imenso Rio Paraguai e chamo o Wagner e digo: – Wagner? Prepare-se, vamos realizar algumas acrobacias antes de nos aproximarmos do Forte, vou chegar lá botando para quebrar, ok? A população toda nos espera olhando para o céu! Vai ser pura adrenalina! Verifique o cinto de segurança, a fixação do capacete, ok? Se tiver alguma dúvida, pergunte agora, depois que iniciarmos a pauleira não estarei dando a mínima para o que falar, entendeu esperto? E ele resmunga nervoso: – Ok Passarelli, vamos nessa!

Tudo pronto, ajeito as luvas nas mãos, observo o painel e inicio a queda para 4000 pés, nesse nível chamo o manche do meu caça e aponto-o na direção vertical para o infinito, o motor ronca como que querendo sair do avião. Vamos perdendo velocidade, piso no pedal esquerdo e ele gira rápido como um gato e despenca rumo ao solo numa velocidade imensa. Faço mais algumas manobras e estamos prontos para o show dentro de instantes.

Nivelo a aeronave e falo no rádio: – Tudo bem Wagner? Ele não responde. Chamo outra vez: – Wagner? Chamo mais uma vez e nada. Acrescento mais umas três vezes seguidas e nada! Começo a ficar preocupado. Vejo que a cabeça dele está caída para o lado direito, ele está meio que desacordado, totalmente alheio ao que acontece ao seu redor, um verdadeiro zumbi voador, balanço seu ombro e fico chamando alto seu nome. Ele começa a dar sinal de vida, sinto um cheiro péssimo e não deu outra, meu copiloto sujou todo o macacão, abri a janela de mau tempo para ventilar, mas já era tarde, o cheiro contaminou toda a cabine.

Estávamos voando no enxofre amarelado. E o pior aconteceu, ele ficou enjoado com o próprio serviço e resolveu vomitar também! Eu gritava no fone de ouvido dele: – Não vomite no painel do avião!!! Nem pensar seu íngua cagão!! Não vomite no painell! Respire fundo! Nem no avião!!! Vomite dentro do macacão!!! Vomite dentro do macacão, você já está todo cagado mesmo, já vamos aterrissar.

Logo desci em Forte Coimbra, solicitei uma limpeza completa no avião, o que os pobres soldados executaram com presteza e decolei sozinho para o show que foi um sucesso, sem antes passar Vic Vapuribe nas narinas.

Wagner chegou de ambulância na enfermaria da unidade militar grogue, amparado por dois enfermeiros, andando devagarinho todo cagado e vomitado. Nunca mais quis voar comigo e ainda ficou bravo comigo…kkkkk! Quando encontro com ele nos dias de hoje ainda queria me bater…kkkk!

Naquele dia desistiu e ser piloto acrobata!! Que pena…não sabe o que perdeu…!

Era um acrobata…mas nem tanto…!

PS: Tenho imenso carinho pelo querido Forte Coimbra-MS, meu saudoso pai Germano Barros de Souza era primeiro-tenente médico clínico geral do Exército Brasileiro, veio do Rio de Janeiro para estancar uma epidemia de gripe nessa unidade militar em 195…

Aprendi a andar em Forte Coimbra.

Coluna de JPassarelli
Voando Padrão

Cmte José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea,
Teoria de Voo e Aerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil.
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.

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