Os números dos Aeroclubes do estado de São Paulo revelam a força e os desafios da aviação civil de base

Jota

24 de outubro de 2025

Os números dos aeroclubes do estado de São Paulo mostram um patrimônio ameaçado_Imagem Ilustrativa.

Os números dos aeroclubes do estado de São Paulo confirmam, mais uma vez, a relevância dessas instituições na formação de pilotos e na preservação da aviação civil brasileira. Atualmente, o estado conta com 47 aeroclubes ativos, responsáveis por 3.489 associados e 299 aeronaves em operação. Juntos, eles já formaram 115 mil pilotos, sendo 12.437 apenas nos últimos 15 anos, com mais de 208 mil horas de voo acumuladas no período.

Além da importância técnica, a atividade dos aeroclubes do estado de São Paulo movimenta diretamente a economia regional. Cada instituição gera, em média, R$ 80 mil por ano, o que representa R$ 66,4 milhões anuais. Considerando a formação média de 830 novos pilotos por ano, cada um movimentando cerca de R$ 200 mil entre cursos, hospedagem e consumo local, o impacto econômico chega a R$ 166 milhões anuais. Portanto, mais do que formadores de mão de obra, os aeroclubes sustentam cadeias produtivas que vão muito além dos hangares.

Os números dos aeroclubes do estado de São Paulo mostram um patrimônio ameaçado_Imagem Ilustrativa.
Os números dos aeroclubes do estado de São Paulo mostram um patrimônio ameaçado_Imagem Ilustrativa.

Mais de 80% dos aeroclubes paulistas nasceram antes de 1950, o que consolida o estado como o berço da aviação civil nacional. Além disso, em diversas cidades do interior paulista, essas instituições ajudaram a preservar a memória da aviação brasileira por meio de acervos, aeronaves e estruturas históricas. Por isso, transformaram-se em verdadeiros museus vivos e centros de cultura aeronáutica.

O Aeroclube de São Paulo, fundado em 1931, representa o mais antigo em atividade no país e simboliza a consolidação da formação aeronáutica civil. Por outro lado, o Aeroclube de Marília, reconhecido como o berço da TAM, atual LATAM Airlines, enfrenta atualmente uma disputa judicial que reflete as dificuldades vividas por entidades históricas do setor. Dessa forma, fica evidente que a aviação comercial brasileira nasceu dentro dos aeroclubes e se expandiu a partir deles.

Outro dado relevante sobre os aeroclubes do estado de São Paulo é o modelo de gestão e manutenção das atividades. De acordo com levantamento feito junto às entidades participantes, 90,3% dos aeroclubes funcionam com base em trabalho voluntário, demonstrando a dedicação e o comprometimento dos seus membros em manter viva a cultura aeronáutica no país.

📊 Gráfico 1 — “É baseado em trabalho voluntário?”

Essa característica reforça o caráter comunitário e o impacto social dos aeroclubes, que sobrevivem mais pela paixão pela aviação do que por incentivos financeiros. Em muitos aeroclubes, especialmente os de menor porte, a direção e parte das funções administrativas são exercidas de forma voluntária, o que ajuda a manter os custos de formação acessíveis e garante a continuidade das atividades mesmo com recursos limitados.

Além disso, o levantamento revelou uma realidade preocupante sobre a situação jurídica das áreas ocupadas. Apenas 12,9% dos aeroclubes possuem matrícula do terreno, enquanto 45,2% operam por concessão e 19,4% apenas por posse. Outros 22,6% não têm qualquer tipo de título de uso reconhecido, o que os deixa vulneráveis a despejos e litígios.

📊 Gráfico 2 — “O aeroclube detém a matrícula, concessão ou posse da área que ocupa?”

Esse cenário evidencia a fragilidade institucional que ameaça a continuidade das atividades de ensino e de preservação histórica. Sem regras claras de permanência e sem apoio governamental, muitos aeroclubes correm o risco de perder o espaço físico onde nasceram e formaram milhares de profissionais.

A rede de aeroclubes do estado de São Paulo está presente em praticamente todas as regiões, conectando o interior à capital e permitindo o acesso democrático à formação de pilotos. Além disso, essa presença descentralizada reduz custos de deslocamento, aproxima jovens da aviação e mantém vivas comunidades inteiras em torno das atividades aéreas.

Essas instituições não apenas formam pilotos, mas também oferecem cursos técnicos, suporte em operações de Defesa Civil, organização de eventos aéreos e participação em missões humanitárias, como nas enchentes do Rio Grande do Sul. Em muitos municípios, o aeroclube é o único núcleo de aviação existente, responsável por manter a pista, o hangar e a mentalidade aeronáutica local. Por isso, sua atuação tem valor estratégico e social inestimável.

Apesar da importância social, econômica e histórica, os aeroclubes do estado de São Paulo enfrentam hoje um cenário de incerteza. A falta de políticas de fomento e a disputa por áreas em aeroportos sob concessão ameaçam diretamente a continuidade dessas instituições. Além disso, estima-se que 30% dos aeroclubes brasileiros já enfrentaram processos de despejo, muitos deles localizados em território paulista.

Sem o apoio institucional adequado, o estado corre o risco de perder não apenas escolas de voo, mas também a principal base de formação de pilotos do Brasil, responsável por 95% dos profissionais que ingressam na aviação civil. Portanto, preservar os aeroclubes do estado de São Paulo significa garantir o futuro da aviação nacional e proteger um patrimônio técnico e histórico construído há quase um século.

Por: Jolando Gatto Netto
Diretor de Segurança de Voo do Aeroclube de Marília

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