Aviador de Verdade: A Paixão Que Faz o Voo Ser Único. Por Ruy Flemming.
Voar Não É Só Pilotar, É Sentir
Outro dia um amigo me perguntou: Flemming!, afinal, o que é voar. O que é ser aviador?
Vamos por partes.
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Um aviador faz tudo o que um piloto faz, mas coloca a tal de paixão em cada voo.
Cara, quando a gente fala em “paixão”, a gente entra numa seara que a maioria das pessoas jamais entenderá.
Tem como explicar o prazer de encontrar a inclinação precisa de uma curva e chegar ao ponto previsto sem mover a inclinação da máquina?
Meu camarada, não estou falando de um voo de helicóptero ou de uma máquina de instrução básica.
Um piloto vai fazer as correções que precisam serem feitas. Um aviador vai se aborrecer a cada interferência que precisa ser feita e sua noite de sono não será a melhor.
O que dizer de um tunô barril na ala?
Eu lembro que a gente brigava para não ser o líder. Voar na ala sempre foi muito mais bacana!
Numa daquelas comemorações do aniversário da Esquadrilha da Fumaça saímos o Renato e eu num elemento, dois aviões.
Voei como ala na primeira parte do voo, em algum ponto da área de instrução.
Cara! Você não faz ideia de como é gostoso fazer cambalhotas na ala! É uma delícia entender que o voo de cabeça para baixo na ala entrou de tal forma na nossa mente que a gente voa como se tivéssemos voado ontem.
Tá tudo registrado no HD mental.
Chegando sobre a pista da AFA, o controlador da Torre, imbuído do espírito comemorativo do evento, falou que o espaço aéreo sobre as pistas era nosso.
Para que é que ele foi falar aquilo?!?
Era a minha vez de ser o líder, o Renato era o meu Ala.
Lembrei das palavras do meu instrutor de caça que falou que há situações que separam homens de meninos.
Passei na frequência de rádio:
– Renato, passagem de dorso sobre a pista, meio tunô, retorno num meio oito cubano.
Eu, há uns dez anos longe da Fumaça, o Renato um pouco menos.
Quebramos a lenha sobre a pista da Academia da Força Aérea.
Não cumpri o que havia dito ao Renato e fiz muito mais, afinal, o espaço aéreo era nosso!
Lenha!
Uma cambalhota atrás da outra!
Como líder, eu queria retribuir ao Renato as cambalhotas que ele me fez me divertir há minutos atrás.
Baixinho, bem perto do chão. De cabeça pzra baixo ou não.
– Porra Flemming, era para ser só uma passagem no dorso sobre a pista! Me diverti pra kct!
Aviador de verdade quer desafio bacana.
O Renato não vai esquecer daquele voo. Nem eu.
Abracei o Renato depois do voo. Acho que tinha bem mais gente naquele abraço. Outros aviadores, mecânicos, o controlador de voo que nunca soube quem foi.
Aviador de verdade guarda na memória momentos simples como se fossem únicos.
Cada voo de um aviador é único.
Voar é isso.
Aquele voo foi memorável porque havia aviadores de verdade naqueles T-27 Tucanos.
Aviador ama voar e o voo ama o aviador.
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Piloto de Helicóptero Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.
Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º GAv – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicóptero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáuticas de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR
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