Força Aérea Brasileira

Crise no ar: por que tantos aviadores da FAB estão pedindo baixa?

Todos os anos, cerca de 170 jovens oficiais se formam na Academia da Força Aérea (AFA), com o sonho de servir ao país. Muitos desses profissionais se tornam aviadores da FAB, motivados pela paixão por voar e pela disciplina militar.

No entanto, um fenômeno silencioso vem se intensificando. Um número crescente de aviadores da FAB está pedindo baixa antes mesmo de atingir a metade da carreira. O que estaria levando tantos oficiais altamente capacitados a deixarem para trás o sonho de infância?

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A Academia da Força Aérea (AFA), sediada em Pirassununga–SP, é referência na formação de oficiais da FAB. Todos os anos, entre 150 e 170 cadetes concluem o curso e se tornam aspirantes a oficial, aviador, intendente e infantaria.

Em 2021, por exemplo, foram 170 formandos, com 119 aviadores entre eles. No ano seguinte, em 2022, a AFA formou 149 novos oficiais. Desse total, 86 eram aviadores, 45 intendentes e 15 de infantaria.

Já em 2023, foram 150 formandos, sendo 91 aviadores. Por fim, em 2024, o número total de formandos chegou a 163, com 107 aviadores confirmando a continuidade da tradição na formação de pilotos militares.

Apesar desse fluxo constante de novos militares, um dado chama a atenção. O número de pedidos de baixa tem crescido mais rápido que a reposição. Por isso, o que antes era uma renovação natural, agora preocupa até os comandos superiores. Enquanto novas turmas são formadas com entusiasmo, oficiais experientes decidem sair em ritmo acelerado.

Durante o ano de 2023, a Força Aérea Brasileira registrou 20 pedidos de baixa somente entre aviadores. No ano seguinte (2024), esse número quase dobrou, chegando a 33 desligamentos.

Até agora, em 2025, os números são ainda mais expressivos. Somente até o dia 8 de maio, já foram computadas 36 baixas. Veja a distribuição:

  • Janeiro: 4 pilotos
  • Fevereiro: 6 pilotos
  • Março: 12 pilotos
  • Abril: 8 pilotos
  • Maio: 6 – até o dia 8. Sendo que no dia 08 de maio, foram 5 pedidos em um único dia.

Com isso, a projeção para o restante do ano é preocupante. Se o ritmo continuar, a FAB pode terminar 2025 com cerca de 60 aviadores a menos. Esse seria o maior número de baixas já registrado em um único ano, colocando em xeque a capacidade de retenção da instituição.

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Diversos fatores ajudam a explicar essa crescente evasão. Além do desgaste natural da profissão, há elementos estruturais que afetam diretamente a motivação dos oficiais.

Muitos relatam frustração com a carreira. A falta de reconhecimento e de oportunidades reais de progressão contribui para o sentimento de estagnação. Além disso, os salários pagos aos aviadores da FAB estão bem abaixo do que o mercado civil oferece, mesmo exigindo o mesmo grau e em alguns casos até mais de excelência técnica.

Por outro lado, há também questões operacionais. A frota de aeronaves em algumas unidades é limitada e, muitas vezes, defasada. Como consequência, as horas de voo disponíveis são escassas — especialmente fora do Grupo de Transporte Especial (GTE).

Depois do posto de major, a realidade muda ainda mais. Poucos continuam voando com frequência. A grande maioria passa a exercer funções puramente administrativas, o que vai na contramão do sonho original de pilotar aeronaves militares.

Ainda assim, o fator mais desmotivador pode estar no ambiente de trabalho. A burocracia excessiva, a baixa autonomia e a pressão institucional fazem com que muitos pilotos repensem se vale a pena continuar na carreira militar.

Além dos aviadores, outros profissionais da carreira militar também têm deixado seus cargos. O caso dos médicos da FAB é um dos exemplos mais alarmantes.

Nos últimos anos, especialistas de diferentes áreas da saúde pediram baixa ou optaram por migrar para a reserva antes do tempo previsto. Por esse motivo, muitas unidades passaram a operar com defasagem crítica no atendimento médico. Motivo pelo qual muitos militares ou dependentes são orientados a procurar especialidades no SUS

Além disso, os concursos realizados para preencher essas vagas não têm atraído interessados. Mesmo com seleções abertas e recorrentes, há falta de candidatos dispostos a assumir os postos disponíveis.

Enquanto isso, a demanda por atendimento dentro da estrutura da FAB continua alta. Essa dificuldade em manter e repor profissionais da saúde agrava ainda mais o cenário de desvalorização interna.

Embora os dados de formação da AFA continuem consistentes, a evasão crescente de aviadores representa um desafio real para a manutenção da capacidade operacional da Força Aérea. Cada piloto que deixa a corporação leva consigo anos de investimento, treinamento e vocação.

Se a tendência continuar, não se trata apenas de números: será uma perda institucional difícil de reverter. Mais do que nunca, é hora de ouvir, valorizar e reter aqueles que ainda escolhem proteger o céu do Brasil.

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