Para quem voa avião, não há nada mais estranho que pairar, estar em voo e olhar para o velocímetro e constatar o zero de velocidade numa máquina voadora. Estranho demais!. Por Ruy Flemming
Meu camarada, quem voa helicóptero é aviador raiz.
Base Aérea de Santos, 1º/11º GAv – Primeiro do Décimo Primeiro Grupo de Aviação. Era lá que a Força Aérea Brasileira ensinava seus aviadores a voar helicóptero.
Foi para lá que fui no início de 1989.
Para quem voa avião, não há nada mais estranho que pairar, estar em voo e olhar para o velocímetro e constatar o zero de velocidade numa máquina voadora. Estranho demais!
Aprendi a voar helicóptero no H-13, ou Bell 47, e vou confessar a vc que foi uma agradável surpresa.
Gosto de dizer que aprendi a voar por três vezes na minha carreira.
Aprendi a voar pela primeira vez quando voei o T-23 Uirapuru, carinhosamente chamado de Zarapa.
Depois de já ter a experiência de ter voado pouco mais de duas mil horas, fui para Esquadrilha da Fumaça – Esquadrão de Demonstração Aérea EDA -, e entendi que estava muito longe de saber que realmente sabia voar.
Sabia nada, especialmente quando falamos em voo de precisão. O voo de cabeça para baixo então, foi algo inusitado.
Os comandos se invertem. Tem como explicar para o HD mental que para trazer o avião para a esquerda há de se atuar no manche de forma a levar o Tucano para a direita?
Agora pense no voo de ala invertido, pertinho. Metro e meio do outro avião. Tente convencer os instintos de que tudo o que vc sempre acreditou não vale mais.
Percebe que tive que, mais uma vez, aprender a voar?
E o que dizer dos helicópteros?
Meu camarada, quem voa helicóptero é aviador raiz.
– Flemming, não é nada disso que vc tá fazendo. Suavidade nos comandos, Flemming, suavidade.
Usei muito a palavra “suavidade” nos meus tempos de instrutor e sabia exatamente o significado, mas no helicóptero essa palavra ganha um significado que vai muito além.
Suavidade passa a ser sinônimo de muita precisão. Coisa que não se compara a nenhuma situação quando voamos avião.
Ok, talvez se compare à precisão de um voo de ala na Esquadrilha da Fumaça.
Você entende porque me apaixonei, de cara, pelo voo de helicóptero?
Precisão fala comigo. Quanto mais complexa a coisa parecer e mais eu tiver que debulhar meu HD mental, mais eu vou me apaixonar.
O H-13 não tinha rodinhas, tinha esquis. Me lembro exatamente do meu primeiro voo. O instrutor puxou o coletivo e o helicóptero subiu um mísero metro para taxiar até a cabeceira da pista para a gente decolar.
Que sensação maravilhosa! O barulho do motor invadindo minhas orelhas falavam comigo uma prosa muito boa.
Que delicia!
Mas e se o motor pipocasse durante um voo?
Fala para mim. Se vc tiver uma pane no seu único motor, vc iria preferir estar num helicóptero, que basta um campo de futebol, ou num avião, que precisa de uma pista?
Auto-rotação.
Aquele “ventilador” que sopra para baixo passa a receber uma enormidade de ar, debaixo para cima, enquanto cai.
É o que mantém o rotor principal girando e permite ao aviador ter controle da máquina enquanto escolhe um lugar para o pouso.
Talvez uma pane numa área congestionada, como Sampa (cidade de São Paulo–SP), leve o piloto de um avião com um único motor avariado até o local do acidente. Talvez o piloto de helicóptero, na mesma situação, se safe (se salvar), e safe quem estiver a bordo.
Um dia, um aviador mal-informado, me questionou.
– Mas vc vai me checar num helicóptero só porque voou Tucano (Avião T-27), na Fumaça? Vai me checar por “similaridade”?
– Não, meu camarada, aprendi a voar no H-13 (helicóptero de instrução), e operei o Sapão (helicóptero Bell UH-1H). Conhece?
Aviões e helicópteros são máquinas que aprendi a conversar no pé da orelha.
Amo ambos.
Piloto de Helicóptero Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.
Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º GAv – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicóptero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáuticas de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR
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