Esse causo foi muito bom. Por Ruy Flemming, Cel. Aviador
Estou dando uma limpa geral no meu escritório e dando fim a muita papelada.
Daí resolvi esvaziar as pastas “Diplomas” e achei um que vai ficar comigo pelo inusitado da história.
Em 2014, como diretor da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (ABRAPHE), eu era muito ativo na interação com as autoridades e presente às palestras, seja como ouvinte, seja como palestrante.
No início daquele ano eu assistia a um circuito de palestras promovido pelo Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA-IV) e a quase totalidade dos palestrantes eram amigos meus e vira e mexe se referiam a mim pra eu atestar algum ponto apresentado, ou querendo minha opinião.
Vira e mexe eu soltava alguma piada para deixar o ambiente mais descontraído.
Isso chamou a atenção de um jovem aluno de engenharia aeronáutica, da USP de São Carlos, que me abordou num coffee break.
– Oi Flemming, eu sou o João Paulo, mas pode me chamar de Trombada. Tem um minuto?
– Claro que sim! Mas antes me explica seu apelido.
Rindo, ele me disse que quando era calouro, estava saindo de uma sala equilibrando uma pilha enorme de livros. Não viu uma pessoa, deu uma trombada nela e os livros se espalharam para tudo que foi canto.
Ninguém mais o chamou pelo nome. O nome virou Trombada. Ri com ele contando a história completa. Sujeito super gente boa!
– Tá bom. Trombada, como posso ajudar você?
– Em agosto teremos a Semana da Engenharia e gostaria que vc fosse palestrar para a gente.
A Palestra Nada a Ver
– Trombada, mas o que um aviador, não-engenheiro, vai falar para alunos e professores da engenharia aeronáutica?
– Sabe o que é, Flemming, nós sempre temos uma palestra tipo “nada a ver” e gostaria que vc conduzisse essa palestra.
Ri de fazer gosto! Mas ri muito! Adorei como ele me convidou!
O Trombada olhava para minha reação com uma cara meio sem graça, mas manteve-se firme e instalou seu melhor sorriso no rosto.
– Trombada, meu querido amigo (já virou brother), mas é claro que vou! Fechado! Minha palestra vai ser a melhor “nada a ver”!
Dias depois eu recebo uma chamada do Trombada.
– Flemming, a sua palestra vai ser a segunda do primeiro dia.
Eu transformei em palestra um texto que havia escrito há muitos anos. Título do texto: “Vai Trabalhar, Tio”.
No dia da palestra, chego à USP SC e sou conduzido à salinha onde o primeiro palestrante do dia já estava sendo paparicado por praticamente todos os professores.
Aos poucos fui encontrando uma brecha para chegar perto do homem.
– Olá, coronel Ozires Silva, prazer impalavrável encontrar o senhor por aqui! Vou assistir à sua palestra.
– E você, vai falar sobre o quê?
– “Vai Trabalhar, Tio”.
– Como?
Aproximei meu copinho de plástico da boca para tomar mais um gole de café. Foi o tempo exato para o Ozires voltar a ser assediado. Seria difícil explicar ao cara que criou a Embraer que minha palestra se encaixava na categoria “nada a ver”. Mas hoje, pensando melhor, acho que o bom humor dele é tão bom que iria se divertir. Na sequência ainda tive como conversar bastante com esse ícone.
É, Trombada, quem aceitou fui eu, mas me diverti muito! Acredite!
Infelizmente não tenho foto com o Trombada e a única que o Trombada tirou da palestra é essa aí.
Piloto de Helicóptero Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.
Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º GAv – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicóptero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáuticas de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR
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