Cidade do Rio de Janeiro já teve três aeroportos e um deles foi apagado da história
Você sabia que a cidade do Rio de Janeiro já teve três aeroportos em plena área urbana
Durante boa parte do século XX, a cidade do Rio de Janeiro conviveu com três aeroportos em operação na mesma cidade. Além do Galeão e do Santos Dumont, a capital fluminense também contou com o Campo de Aviação de Manguinhos, que hoje não existe mais. Ainda assim, o local marcou a história da aviação civil brasileira.
Ao mesmo tempo, Manguinhos operou como um aeroporto urbano por décadas. Além disso, ele funcionou enquanto a cidade crescia ao seu redor, especialmente ao longo da Avenida Brasil. Por isso, o tema ainda chama atenção quando se fala em memória aeronáutica na cidade do Rio de Janeiro.

Antes de Manguinhos o Aeroclube Brasileiro de 1911
A origem dessa história começa antes mesmo da existência do campo de pouso. Em 1911, foi criado o Aeroclube Brasileiro, primeiramente no Campo dos Afonsos-RJ, considerado o primeiro aeroclube do país. Nesse período, a aviação ainda dava seus primeiros passos no Brasil, e o movimento civil buscava organização.
Além disso, Alberto Santos Dumont teve papel simbólico e institucional nesse impulso inicial. Ele participou como sócio fundador ou em posição de destaque honorário, conforme registros históricos costumam apontar. Portanto, é importante tratar esse ponto com precisão para evitar confusões.
Esse detalhe muda a leitura da cronologia. O Aeroclube Brasileiro não nasceu em Manguinhos e, naquele momento, ainda não utilizava o nome Aeroclube do Brasil. Ou seja, a entidade e a base física surgem em etapas diferentes.
A reorganização dos anos 1930 e o apoio do Estado
Com a chegada da década de 1930, a aviação civil passou a ganhar importância estratégica. Além disso, o Estado brasileiro passou a apoiar iniciativas ligadas à formação de pilotos civis. Nesse contexto, o período do ex-presidente Getúlio Vargas aparece em relatos como um marco político relevante para esse ambiente institucional.
Ao mesmo tempo, o aeroclube entrou em fase de reorganização. Em 1932, ocorre uma reestruturação do clube, que abre caminho para uma nova etapa. Depois disso, em 1936, surge formalmente o Aeroclube do Brasil, agora com uma base física própria e um projeto operacional mais definido.
Essa base foi instalada no Campo de Aviação de Manguinhos. O local ficava próximo à Avenida Brasil, em frente à área onde hoje está a Fiocruz. Por isso, Manguinhos passou a ter presença real no mapa aeronáutico do Rio, e não apenas no papel.
Manguinhos como aeroporto urbano e centro de formação
Entre as décadas de 1930 e 1960, Manguinhos funcionou como um aeroporto urbano do Rio de Janeiro. Além disso, ele operou em paralelo com o Aeroporto Santos Dumont e, posteriormente, com o Aeroporto Internacional do Galeão. Assim, a cidade chegou a conviver com três estruturas aeroportuárias associadas ao seu cotidiano.
Ao mesmo tempo, Manguinhos não serviu apenas como ponto de pouso. Ele também se tornou um centro importante de formação, porque apoiou a formação dos primeiros pilotos civis brasileiros em um período de consolidação da aviação nacional. Por isso, o campo ganhou relevância histórica mesmo após desaparecer fisicamente.
Além disso, registros e relatos audiovisuais mostram que Manguinhos fazia parte da rotina aérea local. Esses materiais citam operações, referências geográficas e também episódios marcantes do período, o que ajuda a reconstruir a importância do campo na memória aeronáutica.

O acidente de 22 de dezembro de 1959 e a pressão sobre Manguinhos
Segundo relatos da época, tudo começou a mudar em 22 de dezembro de 1959. Naquele dia, um avião Fokker da FAB, pilotado por um cadete que havia decolado do Campo dos Afonsos – Escola de formação de pilotos militares da FAB -, voava em treinamento e realizava manobras. Durante esse voo, ele colidiu com um Vickers Viscount 827 da VASP, que sobrevoava Ramos para pouso no Aeroporto Santos Dumont.
Jornais da época mencionam que, o acidente causou 32 mortes a bordo e outras 10 no solo. No entanto, o cadete da FAB conseguiu sair do avião, saltou de paraquedas e sobreviveu. Portanto, em seguida, autoridades e imprensa passaram a discutir com mais força o controle de tráfego e as separações de operação na cidade do Rio de Janeiro.
Depois disso, o acidente foi usado como argumento para sustentar que o tráfego aéreo ligado a Manguinhos interferia nas operações do Galeão e do Santos Dumont. Assim, a existência de um campo ativo em uma área urbana cada vez mais densa passou a ser vista como um risco adicional e um fator de complexidade operacional.
O fechamento em 1960 e a transferência para Jacarepaguá em 1972
Com esse novo cenário, o Campo de Aviação de Manguinhos perdeu espaço de forma acelerada. Assim, no ano seguinte, em 1960, o aeroporto de Manguinhos foi definitivamente fechado, conforme relato da época.
Mesmo assim, a história do Aeroclube do Brasil não terminou ali. Pelo contrário, em 1972, o Aeroclube do Brasil conseguiu se reerguer no Aeroporto de Jacarepaguá, retomando suas atividades em outra área da cidade. Dessa forma, a instituição manteve sua continuidade apesar da perda de sua base anterior.
Além disso, a ocupação urbana avançou sobre a antiga região do campo. Hoje, segundo o mesmo relato, onde existia a pista de Manguinhos fica o local conhecido como Vila do João, no Complexo da Maré. Assim, um aeroporto que foi parte da rotina carioca acabou incorporado de vez ao tecido urbano.
O que aconteceu com o Aeroclube do Brasil depois da mudança para Jacarepaguá
A transferência para Jacarepaguá, em 1972, não encerrou as dificuldades do Aeroclube do Brasil. Pelo contrário, a entidade passou a enfrentar um período longo de disputas, com ações judiciais e pressões por desocupação de áreas dentro do aeroporto.
Em agosto de 2014, por exemplo, colunas e reportagens registraram que a Infraero buscava a retirada do aeroclube dos hangares ocupados em Jacarepaguá, em um processo que já se arrastava havia mais de um ano. Além disso, essas publicações mencionaram decisões judiciais determinando prazos para desocupação, o que aumentou a instabilidade operacional do clube.
Depois disso, em agosto de 2017, a VEJA Rio publicou que o Aeroclube do Brasil estava “perigosamente perto de ser desalojado”, citando uma liminar de reintegração de posse expedida pela Justiça Federal em favor da Infraero. Assim, o caso seguiu como um exemplo de como disputas administrativas e judiciais podem ameaçar estruturas tradicionais de formação aeronáutica.
Um aeroporto esquecido que moldou a aviação brasileira
Embora não exista mais, o Campo de Aviação de Manguinhos deixou um legado relevante. Ele foi a base do Aeroclube do Brasil, funcionou como aeroporto urbano por cerca de três décadas e apoiou a formação dos primeiros pilotos civis do país. Portanto, ele ajuda a explicar como a cidade do Rio de Janeiro, chegou a operar três aeroportos no mesmo período histórico.
Além disso, a história de Manguinhos mostra como a aviação civil se desenvolveu junto com a expansão urbana. Ao mesmo tempo, ela revela como acidentes, decisões operacionais e mudanças políticas influenciaram o destino de estruturas aeronáuticas no Brasil.
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