Como piloto faz xixi em voos longos no Tucano. Por Cel Aviador Ruy Flemming.
Jota
8 de dezembro de 2025
Você sabe como piloto faz xixi em voo no Tucano?
Do funil ao assento ejetável como piloto faz xixi no Tucano
Como o piloto faz xixi em voos longos no Tucano é uma daquelas perguntas que quase ninguém faz, mas todo mundo tem curiosidade. No meu caso, a situação ficou clara na perna mais longa que já fiz nesse avião de treinamento. Foram quase nove horas de voo, pouco mais de oito horas e meia, entre Boa Vista, em Roraima, e Pirassununga, em São Paulo. Dois tanques subalares de combustível garantiam essa autonomia extraordinária e permitiam cruzar boa parte do país em um só trecho.
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Não dava para subir muito, porque o nosso limite passava a ser o suprimento de oxigênio, fornecido por garrafas. Por isso, voávamos em torno de quinze mil pés, pouco mais, pouco menos. Essa altura equivale a cerca de cinco quilômetros acima do nível médio do mar. Já o Super Tucano conta com um gerador de oxigênio, o OBOGS, Sistema de Geração de Oxigênio a Bordo. Nesse avião, a autonomia de oxigênio é maior que a autonomia de combustível, o que muda bastante o cenário para missões longas.
Com o passar das horas, a impressão é que o cockpit vai diminuindo lentamente, como num relógio de ponteiros pequenos. O ambiente se torna quase inóspito. Falta espaço para as pernas, falta espaço para os braços e, em pouco tempo, parece faltar espaço para o corpo inteiro. Essa sensação fica ainda mais evidente quando se trata de alguém com 1,86 metro de altura e cerca de 100 quilos, como eu.
Quando o corpo avisa e o piloto acha que dá para segurar
A primeira vez que fiz um “tiro longo” e senti a necessidade de esvaziar a bexiga, pensei imediatamente que dava para segurar. O corpo apenas manda o aviso, sem fazer ideia de onde estou nem de qual é a disponibilidade de um banheiro, muito menos de um mictório. Mesmo assim, a mente insiste em negociar.
Nesse conflito entre os insistentes sinais do corpo e os contínuos “dá pra segurar”, chega uma hora em que o “dá pra segurar” perde a batalha. O desconforto cresce de forma constante e o foco começa a se dividir entre pilotar o avião e administrar a pressão na bexiga. A partir desse ponto, entender como o piloto faz xixi em voo deixa de ser curiosidade e passa a ser questão de sobrevivência ao próprio desconforto.
Funil do Tucano e cuidados antes de como piloto faz xixi
No Tucano, existe um funil no lado esquerdo da cabine de pilotagem que manda o xixi diretamente para a atmosfera. Para usar esse dispositivo, o procedimento parece simples à primeira vista. Basta trazê-lo para a posição correta, abrir o zíper do macacão de voo e se aliviar. No entanto, a prática mostra que não é apenas isso.
Antes de afrouxar os cintos e suspensórios, para que o corpo possa se posicionar da melhor forma, existe um passo crucial de segurança. É indispensável instalar o pino do assento ejetável, para não correr o risco de uma ejeção involuntária durante o movimento. Esse detalhe pode parecer exagero para quem está em solo. Porém, em voo, qualquer toque indevido no comando do assento sem o pino instalado pode ter consequências graves.
Assim, o ritual de como piloto faz xixi em voo no Tucano envolve coordenação entre desconforto físico, limitações de espaço, ajuste de cintos e, principalmente, respeito absoluto ao procedimento de segurança do assento ejetável. Só depois de tudo isso, o piloto pode efetivamente começar a se aliviar.
Fluxo do xixi, assoalho pélvico e lições aprendidas em voo
Quando, enfim, o piloto começa a usar o funil, surge outro desafio prático. A questão é que o fluxo de expulsão da urina costuma ser maior que o fluxo de saída do líquido para a atmosfera. Por causa disso, o funil se enche constantemente. Dessa forma, é preciso travar o assoalho pélvico para controlar a saída do xixi e evitar que o sistema simplesmente transborde.
É exatamente nesse momento que o corpo manda outra mensagem, quase em tom de bronca. “Estou falando para você há bastante tempo que era para se aliviar, por que não começou antes?”
Depois dessa experiência, a lição ficou clara. A partir daquele voo, sempre que o corpo me dava o primeiro sinal, eu resolvia o problema imediatamente. Em vez de insistir no “dá pra segurar”, eu passava a encarar o aviso como ordem. Isso tornava o voo mais confortável e reduzia o risco de enfrentar novamente o equilíbrio delicado entre funil cheio e assoalho pélvico em esforço máximo.
E quando é número dois? Histórias que só quem voa conhece
Se a dúvida é como piloto faz xixi em voo, a pergunta seguinte costuma ser sobre o famoso número dois. Nesse caso, a situação é um pouco diferente. Em geral, a não ser que seja um “piriri”, dá para segurar até o pouso. O desconforto existe, mas costuma ser administrável, principalmente quando o voo não é tão longo quanto aquela perna de quase nove horas.
Mesmo assim, nem sempre tudo sai conforme o planejado. Já vi piloto precisar sair direto para o chuveiro, logo após o pouso, enquanto o assento era içado do cockpit do Tucano para desmontagem e lavagem completa. Quando isso acontece, toda a equipe em solo percebe que a missão teve desafios adicionais além da meteorologia, da navegação e da rotina operacional.
Coisas assim mostram que existem detalhes da vida de quem voa que raramente aparecem nos manuais ou nas entrevistas. São experiências que só quem passa por elas entende de fato. Coisas que só quem voa vive.
E você, conhecia histórias assim sobre como o piloto faz xixi em voos longos no Tucano?
Relato baseado no texto original do Coronel Aviador Ruy Flemming, ex-integrante da Esquadrilha da Fumaça.
Cel-Aviador-Ruy-Flemming
Piloto de Helicóptero Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira. Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º GAv – Busca e Salvamento – SAR – Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado Piloto de Helicóptero Agusta 109 Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáuticas de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR
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