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Cuidado com o ajuste de altímetro. (Cmte.José Passarelli)

A aviação exige a perfeição no ajuste do altímetro.

“Este artigo é dedicado a memória do saudoso Major Aviador Ronaldo Giordano, desaparecido em acidente aéreo no comando da aeronave Hércules C-130-USA pertencente ao 1º Grupo de Transporte de Tropas-1° GTT, sediado na Base Aérea do Galeão-Rio de Janeiro. Acidente este ocorrido no final da década de 80 na aproximação para pouso na Ilha de Fernando de Noronha-PE em voo noturno, tínhamos idades distintas mas o mesmo amor ao avião. Que Deus o abençoe onde quer que esteja grande amigo e comandante Giordano!”

Era a terceira perna de uma longa viagem de três dias e já estávamos lendo o checklist  preliminar de aproximação para pouso, com o altímetro (instrumento que fornece a altitude do avião em relação ao nível do mar) ajustado para 30,22 polegadas de mercúrio (1.024 hectopascais). Isso me parecia meio estranho, pois estávamos ingressando numa área de frente fria. Mas eu estava ocupado com a carta de descida plotando os pontos referenciais e não quis debater o assunto com o comandante. Na aproximação final, tudo estava normal até um pouco antes do fixo da aproximação. Quando furamos a camada de nuvens, o solo parecia estar muito próximo. Chequei a altitude e estávamos exatamente no perfil de aproximação ILS-Instrument Landing System (pouso por instrumentos). Pedi ao comandante que checasse o ajuste de altímetro com a Torre do Rio de Janeiro e, então, tivemos uma grande surpresa: o ajuste era de 29,22 (989 hPa) e não 30,22, o que nos deixou cerca de 1.000 pés (300 m) mais baixo durante a aproximação final.


O ajuste incorreto de altímetro é a causa direta de desvios de altitude, alguns deles suficientes para resultar em quase colisões com o solo e até em acidentes CFIT (Controlled Flight Into Terrain). Felizmente, a maioria dos erros de altitude são detectados a tempo pelo GPWS (Ground Proximity Warning System) ou pelo EGPWS (Enhanced Ground Proximity Warning ), que equipa as aeronaves mais modernas, e conseguem detectar erros, mesmo com o avião já configurado para pouso. Em outros casos, o aviso é dado pelos controladores de tráfego aéreos mais atentos.


É importante lembrar que a pressão barométrica mais baixa aumenta potencialmente os erros de altitude. Na América do Norte, o ajuste é dado em polegadas de mercúrio. E, na maioria de outros países, incluindo a Europa e a América do Sul, o ajuste é fornecido em Hectopascal (hPa), termo pelo qual nos referimos hoje ao ajuste de milibares de pressão baromértica. Alguns pilotos, acostumados a voar nos EUA e que realizaram viagens para o exterior, muitas vezes acabaram se enganando na hora de ajustar o altímetro. A falta de atenção pode resultar em incidentes ou até acidentes graves se o ajuste for fornecido em hectopascal e o tripulante ‘cristalizar’ nos valores em polegadas de mercúrio ou vice-versa.


Por isso, quando estiver voando para o exterior, procure estar atento à unidade de ajuste e quais os níveis de transição de QNE (ajuste padrão de 1.013 hPa) para QNH e vice-versa. Alguns controladores também estão mudando a fraseologia na América do Norte, adicionando ‘low’ quando o ajuste de altímetro estiver abaixo de 29,00 polegadas de mercúrio.


Lembre-se sempre caro aluno ou comandante, ‘que atrás de uma nuvem tem sempre um morro e em aviação só existe a perfeição!’

Coluna de JPassarelli  

Cmdte. José Passarelli

Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de Voo
Aerodinâmica em Voo em Escolas  de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota  

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