Estatísticas revelam que a maioria dos acidentes aeronáuticos acontece no período noturno, especialmente os que envolvem decolagens, pousos e ingressos inadvertidos na pista. É fácil lembrar, por exemplo, do acidente com um Boeing 747-400 da Singapura Airlines, em Taiwan, em outubro de 2000 que decolou de uma pista interditada por obras. Em operações no solo, muitas vezes as lâmpadas do sistema ALS (Approach Light System)- luzes estroboscópicas que piscam junto à cabeceira-, podem impedir que um piloto perceba obstáculos ou aeronaves na pista, quando são ajustadas com intensidade muito forte. O ingresso inadvertido na pista durante à noite já provocou sete acidentes fatais nos Estados Unidos na última década. Na verdade, por muito pouco não foram oito, pois, alguns anos atrás, durante a aproximação para o aeroporto Internacional de Los Angeles, na Califórnia (EUA), os pilotos de um Boeing 737-500 não avistaram as luzes de outra aeronave que estava decolando da mesma pista onde eles iriam pousar e quase conduziram o avião para uma trágica colisão. Eles só notaram o jato ‘intruso’ no momento em que o trem do nariz tocou o solo e as luzes de pouso iluminaram a pista. Felizmente, o choque não ocorreu.
Outro aspecto perigoso à noite é a ilusão somatográfica. Durante uma decolagem noturna, o piloto pode ter uma falsa sensação de ‘up’ (subida). Isso acontece porque os pequenos cílios existentes dentro do sistema auditivo humano, ao perceberem uma aceleração linear, promovem uma forte sensação de que o nariz do avião está se movendo para cima (pitch up). Essa sensação pode sobrepor-se às referências visuais reduzidas no período noturno, ou em condições meteorológicas para voo por instrumentos (IMC), induzindo o piloto, nos casos mais extremos, a operar uma perigosa redução do ângulo de ‘pitch’ e executando uma trajetória mais próxima a obstáculos. Esse fenômeno, que provoca o chamado efeito ‘black hole’ (ou buraco negro), é particularmente preocupante durante a decolagem de um aeródromo bem iluminado na direção de uma área de escuridão total, como uma floresta. Mas é ainda mais perigoso durante as aproximações para aeroportos com essas características.
A falta de referências visuais e noturnas, como as luzes da cidade, e a ausência de auxílios de precisão para pouso por instrumentos, ou visuais (VASIS/PAPI), representam uma boa combinação para causar acidentes tipo CFIT (Controlled Flight Into Terrain) ,o voo controlado contra o solo. A Boeing realizou estudos sobre o efeito ‘black hole’ e identificou alguns dos riscos associados a esse tipo de ilusão visual.
Durante o período diurno, a percepção de profundidade do piloto permite estimar com maior precisão a distância para o aeroporto, assim como a altura em relação ao solo. Na escuridão, essa percepção fica muito prejudicada e, normalmente, o piloto acaba voando mais baixo em relação à trajetória de planeio adequada. A pesquisa revelou ainda que o efeito ‘ black hole’ se agrava quando:
1- O piloto executa uma longa aproximação direta para o aeródromo localizado próximo à lateral de uma cidade;
2- O piloto não está familiarizado com a relação entre comprimento e a largura da pista;
3-O aeródromo tem elevação inferior ao terreno que o cerca;
4-A iluminação da pista é fraca e outros auxílio visuais não estão disponíveis;
5- As luzes da pista são obscurecidas devido à baixa visibilidade, fazendo com que elas aparentem estar mais distantes do que realmente estão.
Coluna de JPassarelli
Voando Padrão
Cmte José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea,
Teoria de Voo e Aerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil.
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.
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