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Dois comandantes no cockpit. (Cmte.José Passarelli)

Comandante do avião bimotor EMB-110 Bandeirante

Numa de minhas últimas passagens rápidas pelo Aeroporto de Congonhas em São Paulo-SBSP, enquanto aguardava o embarque de passageiros para uma nova etapa, avistei no pátio um garoto que olhava fixamente para o avião bimotor EMB*-110 Bandeirante. Parecia extasiado. Como ainda havia um tempo até a hora da partida, pedi ao copiloto para chamar nosso admirador quando descesse para efetuar o ‘walk around’. Nossa, pensei que ele teria um ‘treco’ quando subiu as escadas e entrou na cabine de comando. Após as devidas apresentações, soube que ele era aluno do curso de Piloto Privado de uma Escola de Aviação Civil, e era a primeira vez que visitava a cabine de um avião Bandeirante, pedi para ele se sentar no banco do copiloto, o garoto sentou-se e começou a tremer todo de tanta emoção diante do maravilhoso painel. Ele disse: ‘um dia, se Deus quiser, estarei voando aqui. ‘Suas palavras me fizeram recordar a minha época inicial de instrução, no início da década de 70 na Academia da Força Aérea Brasileira-AFA-FAB, quando olhava as aeronaves do mesmo modo que o garoto, só que naquela época era o T-25 Universal FAB. Nos aeroportos para onde voava, sempre que podia chegava perto de um Douglas DC-3-USA e pensava: ‘um dia, se Deus quiser, estarei sentado na cabine dessa máquina”.

O tempo passou, aviões modernos foram substituindo os velhos pássaros de aço e a aviônica de navegação de bordo também. O garoto ficou, então, com os olhos arregalados e deixou escapar que estava com um pouco de inveja. Nesta hora respondi a ele que, para mim, hoje é o contrário: quando pouso em um aeroporto e vejo um piloto de Skyline olhando para um Boeing 737-800 ou um Airbus A-320, eu é que fico com uma ponta de inveja. O garoto não entendeu nada e me disse: -‘Que loucura! Eu faria de tudo para estar voando no Boeing! ‘Expliquei que hoje, como um piloto privado, ele é mais comandante de aeronave que qualquer piloto de linha aérea. Quando se tira a carteira de piloto ou mesmo voando para algum proprietário de aeronave, cuida-se de tudo: elabora-se o plano de voo, plotamos a navegação de rota, abastecemos a aeronave e efetuamos o check list externo. E na linha aérea tudo muda, o aviador deixa de ser um piloto e se transforma num gerenciador. É o DOV que faz o balanceamento e o respectivo plano de voo, o pessoal da manutenção se encarrega da checagem externa e o abastecimento é feito pela própria concessionária do combustível. Além disso, o jato comercial é muito mais rápido, voa mais alto, 40.000 pés (12.000 m) e é totalmente automatizado. ‘Por isso, quando estou de folga, procuro sempre voar de monomotor com alguns amigos. Só assim, posso colocar minha cabeça no lugar dos problemas do dia-a-dia, matar a saudade que sinto do voo visual e até apreciar a paisagem’, disse ao meu visitante . E ele logo rebateu:’ Pelo menos você já está aí. Para mim é difícil até pagar as horas de voo. ‘Neste ponto concordei com ele e disse que também achava que mudanças drásticas devem acontecer o mais rápido possível em nossa aviação, tanto comercial como regional.

Outro dia, fiz pouco mais de uma hora a bordo de um Tupi , e tive de pagar R$ 350,00 somando o combustível e as taxas aeroportuárias. Não é á toa que muitos jovens estão desistindo de voar aqui para se brevetar lá fora, nos EUA, por exemplo. Mas disse ao garoto que, se ele gosta realmente do que faz, para não desistir e que ele poderá superar qualquer tipo de provação, mesmo que demore um pouco mais para finalizar o curso e chegar à linha aérea.O garoto agradeceu a visita e disse entusiasmado que o seu Aero Boero estava pronto para a partida. Então, quem ficou olhando com inveja fui eu!

Coluna de JPassarelli  

Cmdte. José Passarelli

Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de Voo
Aerodinâmica em Voo em Escolas  de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota 

AeroJota

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