Cronograma de entrega do KC-390 é alterado e FAB recebe apenas um avião por ano, com 9 anos de atraso
Redução da frota e atraso nas entregas do KC-390 preocupam Força Aérea Brasileira
O programa de modernização da aviação de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB) sofreu um duro golpe. O novo cronograma do cargueiro multimissão KC-390 Millennium, divulgado após revisão contratual, reduziu de forma significativa a velocidade das entregas. Antes estava previsto em contrato a entrega de quatro aeronaves por ano, passou a para apenas uma unidade anual, com o prazo final estendido até 2034.
Essa alteração representa não apenas um atraso expressivo, mas também uma redução de frota. Do total de 28 aeronaves inicialmente encomendadas, a FAB receberá apenas 19. Além disso, aditivos contratuais já consumiram recursos equivalentes à compra de duas aeronaves que não chegarão a ser incorporadas. Na prática, o governo federal pagou, mas a frota não aumentará.
Impacto da falta de pagamento e os efeitos na frota
Segundo informações apresentadas na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) pelo Tenente-Brigadeiro do Ar Walcyr Josué de Castilho Araújo, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, a falta de repasses do Governo Federal à Embraer foi determinante para o novo cenário. Sem recursos garantidos, o cronograma precisou ser alongado, comprometendo a operacionalidade da FAB.
Hoje, a frota conta com apenas sete aeronaves em serviço, quando deveria estar com 28 no final do ano de 2025. Embora o KC-390 tenha registrado mais de 14 mil horas de voo com disponibilidade acima de 99%, o número reduzido de unidades limita a capacidade de atender a todas as missões estratégicas. O cargueiro já substituiu os veteranos C-130 Hercules, aposentados em 2024, e assumiu funções vitais como transporte de tropas, evacuação médica, apoio aos caças F-39 Gripen e ajuda humanitária.
De 28 para 19 aeronaves: a perda estratégica da FAB
O corte de nove aeronaves no contrato significa menos disponibilidade para operações simultâneas. Em um país de dimensões continentais, a limitação da frota impacta diretamente missões de socorro em desastres naturais, transporte logístico em áreas remotas e o apoio a operações militares. Para especialistas, a decisão representa um retrocesso na modernização da defesa brasileira.
Além disso, a discrepância entre o contrato inicial e o atual é marcante. Enquanto a FAB projeta operar com apenas 19 unidades em 2034, países como Portugal, Hungria e Suécia avançam com cronogramas de entrega estáveis, recebendo seus cargueiros sem cortes no planejamento.
Exportações avançam, mas o Brasil fica para trás
No cenário internacional, o KC-390 acumula vitórias. Portugal já recebeu três aeronaves e confirmou a compra de uma sexta unidade, enquanto a Hungria opera seu primeiro exemplar. A Suécia oficializou quatro encomendas, e a Holanda e Áustria assinaram contrato conjunto para nove unidades. Fora da Europa, a Coreia do Sul selecionou o cargueiro e a Índia avalia a aeronave em seu programa de transporte médio.
Segundo a agência Reuters, Embraer negocia ainda com Polônia, Turquia, Finlândia e Marrocos, em tratativas que podem superar US$ 600 milhões. A fabricante estuda inclusive instalar uma linha de montagem final na Polônia, ampliando presença no mercado europeu.
Enquanto isso, a FAB convive com entregas espaçadas e redução da frota, criando um contraste entre o sucesso internacional do KC-390 e as dificuldades internas do Brasil em honrar compromissos orçamentários.
Modernização adiada e incertezas até 2034
Com as entregas limitadas a uma aeronave por ano, a FAB enfrentará quase uma década operando abaixo da capacidade planejada. A prorrogação para 2034 prolonga a dependência de uma frota reduzida, o que gera críticas entre especialistas e militares sobre a sustentabilidade do planejamento estratégico da Aeronáutica.
Mesmo consolidado como espinha dorsal da aviação de transporte militar brasileira, o KC-390 Millennium não terá, no curto prazo, a presença de frota que se esperava. Para a FAB, significa manter alto índice de disponibilidade em cada unidade existente, mas sem a flexibilidade operacional que apenas uma frota robusta poderia garantir.