Escassez de pilotos e fechamento de aeroclubes no Brasil ameaçam o futuro da aviação

Jota

7 de outubro de 2025

Escassez de Pilotos e Fechamento de Aeroclubes uma combinação perigosa_Imagem ilustrativa

A aviação mundial enfrenta uma das maiores crises de mão de obra de sua história. Segundo estimativas da Boeing, o setor precisará de mais de 600 mil novos pilotos até 2040 para atender à demanda global. A pandemia agravou esse cenário, com milhares de profissionais aposentados, demissões e suspensão de cursos de formação.

Hoje, mesmo com o crescimento do transporte aéreo, companhias lutam para preencher escalas. O relatório da Deutsche Welle, mostra que a normalização pode levar anos. Além disso, escolas de aviação pelo mundo, ainda enfrentam dificuldades para retomar o ritmo de antes da crise sanitária, o que atrasa a reposição de tripulações e pressiona o setor.

Escassez de Pilotos e Fechamento de Aeroclubes uma combinação perigosa_Imagem ilustrativa
Escassez de Pilotos e Fechamento de Aeroclubes uma combinação perigosa_Imagem ilustrativa

No Brasil, a base da formação aeronáutica depende dos aeroclubes, entidades centenárias – muitas criadas antes do surgimento da Força Aérea Brasileira, que foi em 1941 -, que cumprem um papel essencial na formação de pilotos privados, comerciais e de avião multimotor. É neles que muitos alunos iniciam sua trajetória, passando pelas primeiras horas de voo, teoria e instrução prática.

Após obter a licença de piloto privado (PP), o aluno precisa acumular horas de voo adicionais para conquistar a licença de piloto comercial (PC). Esse processo ocorre justamente dentro dos aeroclubes, onde ele continua treinando para alcançar experiência suficiente e tornar-se elegível a uma companhia aérea. Assim, essas instituições funcionam como a principal porta de entrada para a aviação profissional.

Com o fechamento de diversos aeroclubes em todo o país, esse ciclo de formação está sendo interrompido. Pilotos recém-formados não têm onde continuar treinando e, consequentemente, muitos desistem por falta de estrutura, aviões ou pelo alto custo das horas de voo em escolas privadas e longe de suas cidades.

Nos últimos anos, concessionárias e administrações públicas passaram a restringir atividades de instrução dos Aeroclubes, como os de Guaratinguetá–SP – despejado e lacrado -, Sorocaba–SP, Pirassununga–SP, Marília–SP, São Paulo-SP, Canela–RS, Campina Grande–PB – ganhou na justiça após 12 anos, Brasília–DF, Mossoró–RN, dentre outros, todos com ações judiciais, enfrentaram e enfrentam despejos, notificações ou remoções forçadas de hangares.

Esses locais formaram gerações de aviadores civis e militares. Cada fechamento significa não apenas a perda de um local, mas também de instrutores, oficinas, aviões e do ambiente de aprendizado que sustenta a formação aérea. Além disso, sem esses espaços, o Brasil perde a capacidade de formar pilotos em escala e qualidade suficientes para suprir a demanda crescente do mercado.

Enquanto companhias aéreas internacionais oferecem bônus e aceleram contratações para tentar suprir a escassez, o Brasil enfrenta uma crise silenciosa. Sem aeroclubes, a formação de base desaparece, e os jovens que sonham em voar encontram barreiras crescentes.

Além disso, o custo da hora de voo aumentou significativamente nos últimos anos. O que antes era acessível em aeroclubes comunitários, hoje depende de escolas privadas e aeronaves locadas, elevando o investimento necessário para se tornar piloto. Dessa forma, o sonho de voar se torna inviável para muitos estudantes, e o país perde talentos em potencial.

Por outro lado, a falta de pilotos começa a se refletir nas companhias nacionais. Com o aumento da demanda pós-pandemia e o crescimento do transporte regional, a reposição de tripulações qualificadas se tornou um desafio real, principalmente fora dos grandes centros. Se nada mudar, a escassez poderá afetar a malha aérea, atrasar voos e encarecer o transporte doméstico.

Tramita no Congresso o Projeto de Lei 673/2021, que busca garantir a continuidade das operações dos aeroclubes, reconhecendo sua importância educacional e cultural. O texto prevê prioridade na renovação de concessões e impede despejos arbitrários.

Entretanto, o projeto avança lentamente. Enquanto isso, entidades seguem fechando suas portas ou reduzindo suas frotas. Sem apoio institucional, o país arrisca perder um dos pilares mais importantes de sua aviação civil — justamente quando o mundo inteiro tenta formar mais pilotos para manter os aviões no ar.

Além disso, a aprovação do projeto é vista como um passo estratégico para evitar um colapso na formação profissional. Proteger os aeroclubes significa garantir acesso à instrução, fomentar novas vocações e preservar a tradição aeronáutica brasileira.

A escassez de pilotos e o fechamento de aeroclubes no Brasil são faces da mesma crise. Sem investimento e proteção, o país pode se tornar dependente de profissionais estrangeiros para suprir sua demanda.

Se os aeroclubes continuarem a ser fechados, chegará o dia em que as companhias aéreas terão de criar suas próprias escolas de formação de pilotos — ou recorrer à contratação de pilotos estrangeiros para manter suas operações. Dessa forma, o Brasil deixaria de ser formador de aviadores para se tornar apenas um consumidor de mão de obra externa.

Por fim, proteger os aeroclubes não é apenas preservar a história da aviação — é garantir o futuro da formação de pilotos e a continuidade de uma das carreiras mais admiradas e estratégicas do país

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