Evasão de pilotos na Azul aumenta pressão sobre tripulações

Jota

15 de setembro de 2025

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A evasão de pilotos na Azul atingiu níveis recordes em 2025 e já afeta o planejamento da companhia. Segundo dados internos obtidos pelo AeroIN, a empresa perdeu 128 pilotos até a primeira semana de setembro, média de 14,2 desligamentos por mês. Esse número já supera todo o ano de 2024, quando 113 profissionais saíram da companhia.

https://aeroin.net/azul-perde-mais-de-14-pilotos-por-mes-e-acende-alerta-aponta-levantamento-interno/

Embora parte das saídas tenha sido decisão da própria Azul, a maioria ocorreu por pedidos de demissão. Muitos comandantes que abandonaram a empresa acumulavam mais de dez anos de experiência, atuando em aeronaves de maior porte, como os Airbus A320 e A330. Esse quadro compromete a estabilidade operacional e pressiona ainda mais o planejamento de voos.

O relatório revela que 92 dos 128 desligamentos em 2025 foram voluntários, envolvendo 92 comandantes e 36 copilotos. Entre os comandantes, 41% apontaram remuneração insatisfatória, enquanto 24% deixaram a empresa em busca de progressão de carreira. Outros 19% citaram qualidade de vida como principal razão.

Já entre os copilotos, a distribuição ficou mais equilibrada: 28% saíram em busca de qualidade de vida, 27% por questões salariais e 22% pela falta de perspectivas de progressão. Assim, fica claro que remuneração, carreira e rotina equilibrada formam um tripé determinante para a retenção.

No passado, a Azul compensava salários mais baixos com benefícios e um plano de carreira previsível. No entanto, cortes em vantagens e contratações externas para jatos Airbus desestimularam quem aguardava promoção interna a partir do ATR ou do Embraer. Como consequência, a confiança no modelo de progressão encolheu, e o movimento de saída ganhou força.

Se os desligamentos ainda não atingem os comissários em grande escala, a sobrecarga é evidente. Conforme relatado ao AeroIN, eles precisam manter três habilitações ativas ao mesmo tempo: ATR, Embraer e Airbus A320. Essa exigência aumenta o volume de estudo e dificulta a reciclagem, especialmente quando renovações ocorrem simultaneamente.

Embora muitos permaneçam na companhia, há crescente intenção de migrar para outras áreas fora da aviação comercial. Além disso, a redução de benefícios e a instabilidade das escalas reforçam a sensação de desgaste e a falta de reconhecimento.

Outro ponto recorrente entre tripulantes é a gestão de escalas. Alterações de última hora, ainda que dentro da legalidade, atrapalham períodos de descanso e planejamento pessoal.

Além disso, a redução dos pernoites para cortar custos de hospedagem prolonga jornadas e obriga os tripulantes a retornarem às bases em horários avançados. Como consequência, a margem de recuperação entre voos diminui e a fadiga se intensifica.

Fontes ouvidas pelo AeroIN afirmam que setembro e outubro já exibem escalas desfalcadas, exigindo remanejamentos de última hora para evitar cancelamentos. Para muitos profissionais, a sensação é de que a instabilidade virou regra, e não exceção.

A evasão não ocorre no vácuo. A LATAM absorveu 45 pilotos da Azul somente em 2025, reforçando sua própria malha. Outros seguiram para a aviação executiva, enquanto companhias como GOL, Etihad Airways e Avion Express também receberam profissionais.

Esse movimento amplia a pressão competitiva. Quando concorrentes oferecem pacotes totais mais previsíveis, a escolha pelo desligamento se torna lógica para muitos aviadores. Assim, a perda da Azul fortalece rivais e cria um efeito cascata dentro do mercado aéreo.

O documento obtido pelo AeroIN em 8 de setembro aponta que a attrition ratetaxa de rotatividade ou taxa de evasão -, dos pilotos chegou a 5,2% em 2025, superando o recorde anterior de 5,0% em 2023. Já a taxa geral de desligamentos da empresa está em 6,4%, próxima ao pico de 6,6% registrado em 2022.

A própria Azul projeta perder mais 36 pilotos até dezembro, o que fecharia o ano com saldo negativo de 164 aviadores. Embora o Chapter 11 preveja devolução de aeronaves e corte de rotas, medidas que reduzem a necessidade de tripulação, o problema de retenção permanece. Afinal, não basta equilibrar frota e rotas se a confiança dos profissionais segue abalada.

Segundo informações apuradas pelo AeroIN, gestores de recursos humanos chegaram a alertar a diretoria sobre o problema. No entanto, as advertências não geraram ações concretas, o que alimentou a sensação de desconfiança e ampliou o clima de incerteza dentro da companhia.

A Azul enfrenta um desafio estratégico de retenção em um momento crucial de reestruturação. A perda de pilotos experientes, somada à pressão sobre comissários e à falta de perspectivas claras de carreira, amplia o risco operacional e deteriora o clima interno.

O relatório acessado pelo AeroIN reforça a urgência de adotar medidas de valorização e previsibilidade. Sem ajustes concretos, a companhia pode encerrar 2025 com quadro reduzido e moral abalada, abrindo espaço ainda maior para a concorrência no mercado aéreo nacional.

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