A inércia da ANAC com os aeroclubes abre caminho para o maior retrocesso da aviação civil brasileira

Jota

19 de novembro de 2025

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Os Aeroclubes brasileiros atravessam um período de fragilidade que, embora silencioso, afeta diretamente a aviação civil nacional. Apesar disso, a inércia da ANAC com os Aeroclubes se tornou um ponto central desse cenário. Embora o país possua instituições com 70, 80 e até 90 anos de história, muitas enfrentam despejos, restrições e perda de espaço operacional sem qualquer intervenção efetiva da autoridade aeronáutica. Essa ausência torna-se ainda mais incômoda quando confrontada com a legislação vigente, que reconhece os aeroclubes como entidades de utilidade pública vinculadas ao sistema de aviação civil.

A inércia da ANAC com os aeroclubes ameaça instituições de utilidade pública em todo o país_Imgem Ilustrativa
A inércia da ANAC com os aeroclubes ameaça instituições de utilidade pública em todo o país_Imgem Ilustrativa

A repetição de casos semelhantes em estados diferentes levanta dúvidas legítimas. Embora cada situação tenha suas particularidades, o comportamento da ANAC parece seguir um padrão inalterado: silêncio, distanciamento e nenhuma ação concreta para mediar conflitos. Dessa forma, cresce a sensação de que instituições históricas estão sendo deixadas à própria sorte, mesmo quando a lei determina o oposto. Essa percepção cria um ambiente de instabilidade que alcança alunos, instrutores, pilotos e a própria comunidade aeronáutica.

O problema se intensifica porque os Aeroclubes sempre exerceram funções fundamentais para a aviação civil. Eles treinam pilotos, realizam operações comunitárias e contribuem para o desenvolvimento regional. Mesmo assim, quando enfrentam despejos ou restrições administrativas, raramente encontram suporte institucional. A inércia da ANAC não apenas ignora o papel dessas entidades, mas enfraquece toda a base que sustenta a formação aeronáutica no Brasil.

A legislação brasileira não deixa espaço para interpretações alternativas sobre a responsabilidade da ANAC. O Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86) determina que Aeroclubes só podem funcionar com autorização da autoridade aeronáutica. Após autorizados, tornam-se entidades de utilidade pública. Portanto, a ANAC não tem a opção de se afastar. A agência é responsável por supervisionar, orientar e garantir o adequado funcionamento dessas instituições.

Além disso, a Lei 11.182/2005, que criou a ANAC, concede à agência o dever explícito de fomentar a aviação civil e de adotar medidas de interesse público. Isso inclui regular serviços aéreos, formação e treinamento de pessoal especializado. Dessa forma, não há argumento jurídico capaz de justificar o distanciamento atual da ANAC, nesse contexto, torna-se incompatível com sua própria razão de existir.

A própria ANAC reforça isso em documento oficial. A Nota Técnica nº 21/2020 reconhece que Aeroclubes, escolas de aviação e CIACs – Centro de Instrução de Aviação Civil -, desenvolvem atividades essenciais. O texto afirma que qualquer limitação às suas operações só pode ocorrer mediante articulação prévia com a agência. Apesar disso, concessões estaduais e municipais impõem barreiras sem consulta efetiva à ANAC. Mesmo assim, a agência permanece inerte, embora a legislação determine que ela não pode simplesmente se omitir.

Outro ponto relevante é que, historicamente, os aeroclubes sempre exerceram atividades complementares — como abastecimento, hangaragem e serviços de apoio — justamente para garantir sua sustentabilidade. Essas atividades foram reconhecidas durante décadas pelos órgãos da aviação civil. Mesmo após a modernização das normas e a revogação das portarias antigas, o papel comunitário e operacional dos aeroclubes permaneceu. Por isso, quando concessionárias tentam restringir essas práticas tradicionais, a ANAC deveria intervir para garantir que a formação aeronáutica não seja prejudicada, o que não tem ocorrido.

A sucessão de despejos e conflitos envolvendo Aeroclubes em diferentes estados não pode ser tratada como coincidência. Em várias situações, concessionárias assumem aeroportos e, logo em seguida, surgem pressões contra os Aeroclubes instalados há décadas. A ausência de atuação da ANAC permite a escalada desses problemas, criando o ambiente ideal para que essas instituições percam espaço para usos não aeronáuticos dos aeroportos.

Esse processo afeta diretamente a formação de pilotos. Aeroclubes tendem a oferecer custos mais acessíveis, maior engajamento comunitário e ambiente colaborativo. Entretanto, sem apoio institucional, tornam-se vulneráveis a decisões unilaterais que reduzem sua capacidade operacional. Como consequência, jovens pilotos enfrentam menos opções de formação e custos potencialmente maiores nos próximos anos.

Essa situação alimenta uma reflexão importante. O setor vive um crescimento global da demanda por pilotos, e o Brasil acompanha essa tendência. Mesmo assim, os Aeroclubes — que sempre foram a porta de entrada mais acessível — perdem espaço sem uma justificativa clara. A falta de atuação da ANAC permite que esse cenário avance sem qualquer debate público, o que amplia a insegurança e fortalece a ideia de uma possível ação coordenada contra essas instituições.

A pergunta que fica é inevitável. Se a lei é clara, se a Nota Técnica da própria ANAC confirma a essencialidade dos aeroclubes e se a Portaria 05 define suas atividades como de interesse público, por que a agência permanece inerte enquanto essas instituições enfrentam ameaças em todo o país? A inércia da ANAC pode ser tratada como um simples detalhe administrativo. Ela já produz efeitos danosos, reais e profundos na formação aeronáutica brasileira.

Mesmo sem afirmar qualquer ação ilegal, é legítimo questionar se existe um movimento orquestrado — ou ao menos conveniente — para permitir o esvaziamento dos aeroclubes e a ocupação de suas estruturas por terceiros. Embora não haja comprovação disso, o padrão observado em diversas cidades torna a reflexão necessária. O AeroJota entende que essa discussão precisa ser feita com transparência, profundidade e responsabilidade.

Enquanto a ANAC não cumprir seu papel previsto em lei, a vulnerabilidade dos aeroclubes continuará. Por isso, o debate público e político tornou-se urgente. A aviação brasileira não se desenvolve sem formação, e não existe formação sólida sem os Aeroclubes. Essa inércia da ANAC com os aeroclubes, portanto, deve ser encarada como um problema nacional que precisa de resposta imediata.

Salvem os Aeroclubes de São Paulo_Imagem ilustrativa
Salvem os Aeroclubes de São Paulo_Imagem ilustrativa

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