Alguém se habilita a ocupar esse espaço?
Um amigo que voa na regular me enviou esse vídeo e disse que o Lito não vai poder andar na rua sem ser hostilizado.
Gosto do trabalho do Lito e lamento que tanta gente arrume tanto argumento pra tentar derrubar ele.
Quer queira, quer não, os vídeos dele são ótimos. Certamente vc já assistiu e gostou do que viu. Não é à toa que está com em torno dos 1,5 milhão de seguidores tornando ele o mais importante influenciador que temos na aviação. E continua crescendo.
Alguém se habilita a ocupar esse espaço?
O problema, pra maioria de nós, é que ele é um “mero” mecânico que resolveu falar de voos e da segurança desses voos e, qdo o assunto é piloto, estamos falando de egos quase sempre bastante inflados.
Vc conhece, né?
Claro que cometeu deslizes. Todos nós cometemos. Mas a história do bife não foi deslize.
Quer ver?
Ele estava falando da estrutura que existe por trás da regular, comparando com a executiva.
O piloto da executiva não é melhor nem pior que o da regular. O da regular não é melhor nem pior que o da executiva. Mas vc há de convir que, lá e cá, tenha quem pense diferente.
Nunca entendi bem esse mimimi, afinal é tudo aviador.
As demandas são diferentes e as características da operação tbm são.
O piloto executivo faz o peso e balanceamento a cada decolagem. Não tem quem faça pra ele.
Preenche a lista de passageiros a cada decolagem e guarda esse documento por um ano. Ninguém faz isso por ele.
Planeja o voo, incluindo meteoro, rota, nível de voo, combusta, coordenação com o destino, alternativas, etc.. Não recebe um documento detalhado do despacho que tenha tudo isso. Não existe piloto executivo que não tenha alguns aplicativos no celular e que efetivamente faça uso deles a cada voo. O despachante é o próprio.
Quer ver outro exemplo?
O passageiro Fulano gosta de determinado jornal ou revista, prefere mini sanduíche de queijo branco, gosta de água com gás.
A comissaria é o piloto executivo quem faz, inclusive, dependendo da máquina, pode ser ele quem esquente o almoço e sirva.
Características que não são comuns na regular.
O cheque antes da decolagem estará incompleto sem um Zap coordenando o pouso no destino pro motorista estar esperando.
Mas tbm tem a possibilidade não rara de, – Cmte, vc pode pedir um táxi pra qdo a gente pousar? Como fazer isso em voo? O táxi vai estar lá.
Vai pernoitar num local diferente? Se não coordenar o pouso e pernoite com ou sem hangaragem, ninguém vai fazer isso por ele.
Ah! E ainda exista o fenômeno da multiplicação de passageiros. Não é o balcão do check-in que coloca dois PAX na última hora, aumentando de 102 para 104 o POB. É o dono da máquina (CEO da empresa), que dizia que no voo iriam ele e mais dois e aparecem cinco numa capacidade máxima de oito, contando cmte e copila. O piloto executivo que não guardar essa carta na manga, pode se dar mal. Nessa mesma linha, muitas vezes a definição de “bagagem de mão” tem que ser atualizada. Quem confere o peso antes de embarcar é o piloto executivo.
Falando em CEO, na maioria dos voos ele estará a bordo.
Quer outra que pode acontecer no momento da decolagem, ou mesmo em voo? – Cmte, antes do destino preciso dar uma passada na fábrica. Vc tem a coordenada, né?
E o plano de voo? O piloto da executiva tem que estar de orelha em pé o tempo todo. Preenchimento, cancelamento ou DLA é ele quem faz.
Abasteceu? Acompanha, assina, lança no DB e manda a nota pro escritório.
Como? Tem taxa Infraero em aberto? Arrume um jeito de pagar, senão adeus decolagem. Tá contigo, comandante!
Falando em se atualizar, mudou uma regra importante? O operações da regular emite uma circular. O piloto executivo tem que correr atrás. Aliás, muitas alterações nas regras partem dos próprios pilotos, como pessoa física, ou deles como representantes nas associações, que existem basicamente por questões operacionais.
Tem um pouco de tudo na executiva e isso é característica, jamais uma reclamação de quem voa na executiva. Pra quem não se identificar, a aviação oferece outras opções.
A propósito, não custa nada fazer essas tarefas e é evidente que a maioria do pessoal da regular sabe fazer e poderia fazer na boa. Inclusive, muitos passaram pela executiva e fizeram essas coisas que pincei aqui e ali, e várias outras que tbm já ouvi.
Voltando ao bife, qdo vc se mete na cozinha da sua casa, é vc que corre atrás de tudo. Se estiver tudo na mão, mas o botijão de gás estiver vazio, melou! Liga pro iFood. Já o chef do restaurante tem uma equipe pra garantir que quando acontecer o tchiiiii do bife encostando no óleo quente, o cliente só saboreie uma iguaria.
O “cliente” pode ser seu cunhado, seu filho, seu amigo, seu “CEO”, ou um mero desconhecido que vc nunca viu na vida e está no seu voo.
Será sempre muito bem tratado pelo aviador. A ideia sempre será sair do ponto A e chegar ao B da melhor forma.
A diferença entre o bife que a gente prepara em casa pro do restaurante é que eu tbm vou comer.
Entendeu? A aviação tem profissionais que sempre estarão a bordo e querem voltar pra casa depois de um dia de trabalho.
Esse é o maior diferencial da vida do piloto pra qlqr outra profissão.
É a diferença entre o profissional envolvido e o comprometido.
Entende que o aviador sempre estará envolvido? Não importa se voa no garimpo, ministra instrução, dá seus tiros na agrícola, está na executiva ou regular. O boneco dele sempre estará a bordo.
Somos iguais e temos peculiaridades típicas da operação que fazemos hoje.
O meu bife? Gosto ao ponto, eu mesmo frito e vai ficar bom.
E o trabalho do Lito?
Gosto e aplaudo.
Bons voos!
Flemming
Em tempo.
Um dia um diretor da ANAC me perguntou qual seria, em minha opinião, o maior problema do piloto médio.
– Interpretação de texto.
Vida que segue. Bons voos pra gente!
Flemming
Coletivo prá cima. Cíclico á frente!
Piloto de Helicóptero Ruy Flemming, Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira.
Formou-se na Academia da Força Aérea Brasileira – AFA
Piloto do 1º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA – 1º EIA, das Aeronaves T-25 e T-27 Tucano, formando centenas de Pilotos Militares na Academia
Piloto de Helicóptero Bell UH-1H do 2º/10º Gav – Busca e Salvamento – SAR –
Piloto da Esquadrilha da Fumaça entre os anos de 1992 e 1995 como #3 Ala Esquerda e #7 Isolado
Piloto de Helicótpero Agusta 109
Ex-Diretor da ABRAPHE – Associação de Brasileira de Pilotos de Helicópteros –
Autorizou transcrever seus artigos, causos, dicas e curiosidades aeronáutica de asa fixa ou rotativa. Para acompanhar o Aviador Ruy Flemming nas redes sociais, acesse o link a seguir RUY FLEMMING NO AR