Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes alerta para risco de extinção histórica

Jota

21 de outubro de 2025

Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes alerta para risco de extinção histórica_Imagem Ilustrativa

O Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes no Brasil relembra a trajetória dessas instituições que moldaram a aviação mundial e nacional. A história começou em 1889, quando Santos Dumont e outros pioneiros criaram o primeiro aeroclube do mundo: o Aeroclube da França. O objetivo era realizar estudos aeronáuticos e incentivar o desenvolvimento da nova indústria da aviação.

Inspirado por esse movimento, o Brasil também viu surgir seus primeiros aeroclubes, que uniam ciência, formação e paixão pelo voo. Quando surgiram — especialmente os fundados até o início da década de 1990 — receberam Reconhecimento de Utilidade Pública Federal, pois seus estatutos, criados sob orientação do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC), estabeleciam a missão de fomentar a mentalidade aeronáutica, preservar a história da aviação e atender a comunidade em casos de calamidade pública ou interesse social.

Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes alerta para risco de extinção histórica_Imagem Ilustrativa
Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes alerta para risco de extinção histórica_Imagem Ilustrativa

Durante o século XX, o jornalista Assis Chateaubriand e o ministro Salgado Filho lideraram a campanha “Vamos Dar Asas ao Brasil”. Graças a essa iniciativa, surgiram dezenas de aeroclubes em várias regiões do país, que receberam aeronaves e apoio para formar novas gerações de pilotos.

Com o tempo, essas instituições tornaram-se polos de desenvolvimento humano e técnico. Nos aeroclubes, a formação vai muito além das aulas teóricas e práticas. Ela inclui valores, convivência e aprendizado em um ambiente que transforma jovens sonhadores em aviadores. Essas instituições de ensino, portanto, nunca foram apenas escolas de voo. Elas representam uma rede de utilidade pública voltada à educação aeronáutica, à cultura e ao serviço à sociedade.

Nesses espaços nasceram os famosos “ratos de hangar”, jovens apaixonados que aprendem ajudando e convivendo no dia a dia dos hangares. Dessa forma, absorvem a essência da aviação e desenvolvem o verdadeiro espírito aeronáutico. Todos os pilotos profissionais começaram exatamente assim.

Com a extinção do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC) e a criação da ANAC, surgiu um vácuo institucional que fragilizou os aeroclubes. A Agência Nacional de Aviação Civil passou a tratá-los, equivocadamente, como concorrentes das escolas privadas. Essa interpretação reduziu o apoio e dificultou sua permanência.

No entanto, os aeroclubes são entidades sem fins lucrativos. Eles atuam de forma complementar, não concorrencial. Por isso, fortalecem o ecossistema de formação aeronáutica e mantêm viva a paixão pelo voo, especialmente em regiões onde escolas privadas dificilmente se estabelecem.

A última renovação de frota pública dos aeroclubes ocorreu entre os governos Sarney e Collor. Naquele período, a União cedeu aeronaves Aeroboero adquiridas da Argentina como parte de um acordo internacional. Desde então, porém, essas entidades sobrevivem com esforço próprio e dedicação de suas comunidades locais.

Nos últimos anos, entretanto, um novo desafio passou a ameaçar a sobrevivência dos aeroclubes. As privatizações de aeroportos e o avanço imobiliário sobre áreas históricas criaram um cenário de instabilidade e insegurança jurídica. Além disso, em muitos casos, as concessionárias começaram a cobrar aluguéis altíssimos por espaços que sempre foram públicos e de uso social.

Casos emblemáticos como os de São Paulo, Curitiba, Londrina, Pirassununga, Marília, Canela e Amazonas, dentre tantos outros, demonstram a gravidade do problema. Mesmo diante de pareceres favoráveis do Comando da Aeronáutica, a ANAC e a Secretaria de Aviação Civil permanecem inertes, sem coordenar uma solução coletiva. Portanto, cada aeroclube precisa lutar isoladamente pela própria sobrevivência, o que torna o quadro ainda mais preocupante.

Nesse contexto, a falta de apoio institucional e o avanço das privatizações colocam em risco um patrimônio que pertence a toda a sociedade brasileira. Proteger os aeroclubes significa defender a formação de pilotos, a história da aviação e o acesso democrático ao sonho de voar.

O Manifesto pela sobrevivência dos aeroclubes no Brasil reforça que essas entidades são mais do que escolas de voo. Elas são centros de convivência, cultura, turismo e memória. Além disso, representam locais de aprendizado, encontros e inspiração para novas gerações.

Ignorar o papel dos aeroclubes é negar a história da aviação brasileira. Em um país de dimensões continentais e desigualdades sociais, eles oferecem o primeiro passo para quem sonha em se tornar piloto ou atuar na área aeronáutica.

Permitir que desapareçam seria apagar um capítulo essencial da história nacional. Também significaria desrespeitar o legado de Santos Dumont e de todos que construíram o espírito aeronáutico do Brasil.

Diante desse cenário, o manifesto faz um apelo à sociedade, às lideranças políticas e às autoridades aeronáuticas. É urgente adotar medidas que protejam os aeroclubes, reconheçam sua importância estratégica e garantam sua continuidade.

Assim como um jovem que, após voar pela primeira vez, jamais deixa de olhar para o céu, o Brasil precisa olhar novamente para suas origens. Proteger os aeroclubes é proteger a essência da aviação e o sonho que inspirou Santos Dumont a desafiar a gravidade.

Texto de: Jeferson Luis Rezende/Piloto Agrícola
Presidente do Aeroclube de Guarapuava–PR

MUSAL_Aniversario-de-Santos-Dumont-2025_Imagem-internet
Alberto-Santos-Dumont-pai-da-aviação

Quer levar um pedacinho da história da aviação para casa? Confira o Classificados Aeronáutico AEROJOTA com souvenirs, colecionáveis e decorativos exclusivos. Acesse agora: www.aerojota.com.br e descubra raridades que fazem qualquer apaixonado por aviação decolar de emoção!