Primeira piloto agrícola do mundo, Mirta abriu caminho para futuras gerações e fez história combatendo gafanhotos nas lavouras do Uruguai, em 1946.

A Pioneira Uruguai falece aos 101 anos e deixa um legado histórico que atravessa gerações na aviação agrícola da América do Sul.

Faleceu no sábado, 22 de março de 2025, aos 101 anos, a uruguaia Mirta Vanni de Barbot, reconhecida mundialmente como a primeira mulher piloto de aviação agrícola. Referência histórica para a aviação sul-americana, ela deixou um legado de pioneirismo, ousadia e amor pelo voo — numa época em que mulheres sequer eram bem recebidas em cabines de comando.

Mirta iniciou sua carreira na aviação agrícola em 1946, ao participar de missões de controle de praga de gafanhotos nas lavouras do Uruguai, no serviço do Ministério da Agricultura e Pesca de seu país. A operação foi crucial para conter uma gigantesca infestação de gafanhotos que ameaçava plantações em diversas regiões do Cone Sul. A praga seria tão significativa que, no ano seguinte, acabaria incentivando o nascimento da aviação agrícola brasileira.

Por sua atuação nesse período, Mirta ficou conhecida como “la última langostera”, em homenagem aos pilotos que participaram das campanhas aéreas de combate às langostas — como são chamados os gafanhotos em espanhol.

Paixão que Nasceu no Campo de Aviação

Mirta nasceu em 3 de janeiro de 1924, na cidade de Carmelo, às margens do Rio da Prata, no departamento de Colônia, Uruguai. Ainda menina, apaixonou-se pela aviação observando os aviões que pousavam e decolavam de um pequeno campo aéreo local. Essa paixão infantil foi interrompida aos 14 anos, com a morte do pai. A família então se mudou para Montevidéu, capital do país.

Mesmo em tempos difíceis, Mirta teve efeitos determinados. Aos 16 anos, formou-se como enfermeira e logo ingressou em um curso universitário para enfermeiras de aviação. Como prêmio por seu desempenho, recebeu uma bolsa de estudos para o curso de piloto amador, destinada exclusivamente a enfermeiras, sendo a única mulher em uma turma de homens. Não parou por aí: aos 19 anos, conquistou o brevê Classe B, tornando-se a primeira piloto mulher profissional do Uruguai.

Além da pilotagem, formou-se também em mecânica aeronáutica — algo raríssimo para mulheres em sua época, mesmo entre homens aviadores. Sua habilidade em solo e não ar a fez ganhar respeito imediatamente de colegas e superiores, que viam nela uma profissional tão técnica quanto dedicada.

Vida, Família e Reconhecimento

Mirta foi casada com José Pedro Barbot, com quem teve três filhos. Apesar das barreiras impostas pela sociedade da época, o impacto afetou a aviação ao longo da vida, participando de eventos e encontros do setor aeroagrícola.

Foi frequentemente homenageado em reuniões da aviação agrícola na América do Sul, sendo figura de destaque em eventos como os congressos do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola – SINDAG – no Brasil e da Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas (ANEPA) no Uruguai. Em cada participação, foi recebido com carinho, reverência e admiração pelas novas gerações de aviadoras e pilotos.

Em uma de suas últimas entrevistas, disse com humildade:

“Fiz o que eu precisava ser feito. Na época, não imaginava que estava fazendo história.”

E fez. Mirta não apenas entrou para a história — ela escreveu com asas. Seu nome está entre os grandes da aviação mundial, especialmente no segmento agrícola, onde seu legado continua a inspirar mulheres e homens que seguem desbravando os céus em prol da produção e da sustentabilidade no campo.

Uma Despedida com Honras

O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG) e demais entidades do setor lamentaram profundamente a perda e publicaram notas de pesar celebrando sua vida e importância. Para o setor, Mirta simboliza não apenas a presença feminina na aviação agrícola, mas também o espírito pioneiro que ajudou a moldar uma das áreas mais estratégicas da aviação latino-americana.

Aos 101 anos, Mirta Vanni de Barbot voou pela última vez, mas deixa sua marca eternizada nos céus da história.

Leia AQUI a nota de pesar, emitida pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag)  

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