Por que o motor do MD-11 da UPS caiu durante a decolagem e o que mostram as novas imagens da NTSB
Imagens inéditas explicam como o motor do MD-11 da UPS caiu durante a decolagem e causou a queda
O motor do MD-11 da UPS caiu durante a decolagem do voo UPS 2976, segundos após o início da rotação – momento em que o piloto eleva o nariz da aeronave ao atingir a velocidade ideal de decolagem — o motor esquerdo caiu da asa. O relatório preliminar divulgado pela NTSB confirma que o conjunto motor-pylon – formado pelo motor e pelo suporte estrutural que o prende à asa -, do lado esquerdo, se separou devido a falhas estruturais associadas a trincas por fadiga.
Além disso, novas imagens divulgadas pelos investigadores mostram o momento exato em que o motor se desprende, passa sobre a asa, gira por cima do avião e inicia um incêndio antes de atingir o solo. Esses elementos reforçam o caráter excepcional do acidente e revelam detalhes importantes sobre o comportamento da aeronave durante a sequência de eventos.
Como o motor do MD-11 da UPS caiu durante a decolagem
A aeronave recebeu autorização para a decolagem no Aeroporto Internacional de Louisville e iniciou uma corrida aparentemente normal. Entretanto, no instante em que o comandante puxou os comandos para a rotação, o motor esquerdo caiu da asa e se projetou para cima, passando sobre a fuselagem. As câmeras de vigilância registraram chamas no motor e no ponto onde o pylon se fixava na asa. A queda do conjunto provocou vibrações intensas, perda de sustentação e uma rápida deterioração da capacidade de subida.
Mesmo atingindo aproximadamente 30 pés (aprox. 9 m) de altura, o cargueiro não conseguiu manter a ascensão. A altitude registrada caiu rapidamente após o motor cair, e a aeronave guinou levemente para a esquerda, incapaz de compensar o desequilíbrio estrutural. Poucos segundos depois, o trem de pouso esquerdo atingiu o telhado de um galpão da própria UPS. O MD-11 então colidiu com outras estruturas localizadas ao sul da pista e foi consumido pelo fogo. O campo de destroços se estendeu por quase um quilômetro.
Estrutura do pylon e os pontos que falharam
A investigação preliminar identificou falhas críticas nas peças que prendem o motor à asa, tanto na parte dianteira quanto na traseira do pylon. Esse suporte funciona como o “braço” que segura o motor no lugar e depende de vários componentes internos para suportar peso, vibração e esforço aerodinâmico. Entre eles estão os mancais esféricos, que permitem pequenos movimentos controlados, as bielas de empuxo, que seguram a força do motor, e a clevis — uma peça em formato de garfo que conecta tudo isso à estrutura interna da asa.
Durante as análises, os técnicos encontraram fraturas justamente nos pontos onde essas peças se fixam. No suporte traseiro, havia trincas por fadiga tanto na parte interna quanto na externa, um sinal claro de desgaste acumulado ao longo do tempo. No suporte dianteiro, a parte interna também mostrava sinais de fadiga, enquanto a parte externa havia rompido por sobrecarga no momento da falha. Esse conjunto indica que o pylon já operava em uma condição crítica antes do acidente.
Os investigadores também observaram que o mancal esférico traseiro — responsável por permitir a articulação controlada entre o pylon e a asa — estava com sua “gaiola” externa completamente rompida. Esse rompimento expôs a esfera interna e eliminou parte da sustentação estrutural do conjunto. Com a soma dessas fraturas, o pylon não conseguiu mais segurar o motor, que acabou se soltando de forma súbita durante a rotação.
Histórico de manutenção da aeronave
O MD-11 acidentado acumulava mais de 92 mil horas de voo e ultrapassava 21 mil ciclos. O programa de manutenção da UPS estava atualizado, com inspeções visuais, gerais e detalhadas realizadas conforme o intervalo exigido. A última inspeção completa nos pontos de fixação do pylon havia ocorrido em 2021, dentro do cronograma regular de 72 meses.
Apesar disso, as inspeções mais profundas, conhecidas como SDI – Special Detailed Inspection -, Inspeção Especial Detalhada, ainda não eram obrigatórias para aquele conjunto estrutural. Essas inspeções só são exigidas após 28 mil ou 29 mil ciclos, dependendo do componente. O cargueiro estava abaixo desses limites. Essa situação levanta discussões importantes: mesmo com o programa em dia, o motor caiu durante a decolagem devido a falhas não identificadas previamente. Isso pode indicar que os critérios baseados apenas em ciclos ou horas talvez não sejam suficientes para detectar fadiga em aeronaves mais antigas.
Imagens divulgadas reforçam a gravidade da falha
As imagens selecionadas pela NTSB mostram momentos que antes apareciam apenas nos relatórios. Além disso, o vídeo evidencia o motor passando sobre a asa com chamas visíveis, algo raro em investigações desse porte. A queda ocorreu de forma abrupta e, por isso, não apresentou qualquer sinal externo para a tripulação. Essas imagens também comprovam que a falha estrutural já estava avançada e que a ruptura aconteceu exatamente no momento de maior carga.
Além disso, os registros reforçam que o motor, ao cair, danificou superfícies da asa e comprometeu a estabilidade aerodinâmica da aeronave. Dessa forma, a análise da trajetória do motor ajuda a entender como o impacto inicial gerou incêndio imediato nos pontos de fixação e contribuiu para a perda de controle.
Consequências operacionais e repercussões
Após o acidente, autoridades aeronáuticas determinaram inspeções emergenciais em aeronaves do mesmo modelo. Operadores suspenderam temporariamente voos com MD-11 e MD-11F para verificar condições estruturais de pylons e mancais. A medida reforça a necessidade de avaliar a vida útil de aeronaves de carga que acumulam décadas de serviço.
Além disso, o caso amplia um debate global sobre a operação prolongada de aeronaves tri-jato. O MD-11 já é conhecido por sua exigência operacional elevada, principalmente em pousos. Entretanto, falhas estruturais no pylon são extremamente raras e demandam atenção imediata do setor. A expectativa é que o relatório final apresente recomendações de manutenção mais rígidas e novos protocolos para inspeções em aeronaves com idade avançada.
O que ainda será investigado
A NTSB continuará analisando os componentes metálicos, a caixa preta e o histórico completo de manutenção da aeronave. Técnicos avaliarão se a fadiga decorreu exclusivamente de envelhecimento estrutural ou se fatores externos influenciaram a progressão das trincas. Também será analisada a possibilidade de ajustes nos intervalos de inspeção e na metodologia de detecção de falhas em componentes estruturais de alta carga.
Conclusão
O relatório preliminar confirma que o motor do MD-11 da UPS caiu durante a decolagem devido a uma falha estrutural progressiva no pylon esquerdo. As trincas por fadiga evoluíram até o ponto em que o conjunto perdeu sua integridade no momento de maior exigência. As novas imagens ajudam a compreender a cronologia do acidente e reforçam a importância de revisar protocolos de manutenção em aeronaves com muitos ciclos. Agora, a investigação segue com foco em determinar as causas finais e orientar medidas que aumentem a segurança nas operações cargueiras.
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