“As melhores cabeças”
‘Na Máfia por acaso’
Desde a adolescência gosto de ouvir músicas italianas, fui criado em uma família de músicos, bisavós, avós, pai e mãe. Entre minhas músicas favoritas estão Canzone per te, Al di là, Sapore di sale, O sole mio, Roberta, Luna rossa, Senza fine, Caruso, Legatta a un granello di sabbia, e outras. sobrenome Passarelli é muito comum no sul da Itália, meus anscestrais vieram da Sicília, mas muitos ficaram por lá. Por esse motivo, quando os italianos começaram a imigrar para o Brasil, no fim do século passado, naturalmente havia alguns Passarelli na leva, sem nenhum parentesco entre si. Agora os descendentes dessas várias famílias Passarelli residentes no Brasil vão realizar um encontro em uma cidade do Rio Grande do Sul. Um verdadeiro paradoxo entender o que um tem a ver com o outro, a não ser falar muito, cantar e brigar, exceto pelo fato de possuírem o mesmo sobrenome.
Isso é mesmo o necessário? Meu avô materno me dizia que muitos tios e primos faziam parte da Máfia italiana, e que depois foram para Nova Iorque-EUA. Até outro dia, nossos descendentes de italianos costumavam tratar a própria origem com certa indiferença, pois se consideravam apenas brasileiros. Com o progressivo enriquecimento da Itália e a modernidade escalar, porém, esse vínculo se reforçou enormemente, transformando-se em puro orgulho bairrista. Quem tinha um parente italiano, por mais distante que fosse, reconstruiu a árvore genealógica e fez fila no consulado para obter passaporte, esnobando-o nos principais aeroportos do mundo, junto com suas bolsas caríssimas, meia dúzia de palavras da língua dos avós e decoradas receitas de pizzas com excesso de molho de tomate.
Como eu também sou descendente de italiano, chamo-me Passarelli e entrei na fila no consulado em São Paulo para tirar passaporte, sinto-me no dever de me sentir membro da Máfia italiana, assim como meus parentes da Sicília que por lá se aventuram desafiando as leis. Por outro lado, o orgulho pelas próprias raízes é o sentimento mais deletério que existe, gerando apenas preconceitos e racismo. A sociedade secreta e criminosa conhecida pelo nome de Máfia tem suas raízes no solo torturado da Sicília há centenas de anos. A Ilha fica no Mar Mediterrâneo, junto à ponta da bota. Os escravos sicilianos fizeram o pão comido pelos exércitos romanos que conquistaram os gauleses e bretões. Um invasor após outro passaram pela ilha- Normandos, alemães, franceses, aragoneses, espanhóis, e finalmente os soldados saqueadores da Inquisição.
Durante uns dois mil anos, os sicilianos foram pisoteados pela bota de algum conquistador. Perderam sua terras e bens; suas esposas e filhas foram violadas. Não havia meios de evitar essas injustiças, isto porque a lei e a justiça sempre eram as ferramentas dos dominadores, que agiam como bandidos na legalidade. Provavelmente a agonia dos habitantes da ilha atingiu limites extremos durante os trezentos anos intermináveis de violações e pilhagens dos soldados de capuz negro da Inquisição. Dessa forma, os sicilianos montaram, segundo eles mesmos, ‘A Honrada Sociedade da Máfia’ para se vingar de todos os sofrimentos de séculos. A Máfia original atua ainda nos dias de hoje na Itália e nos EUA.
Coluna de JPassarelli
Cmte. José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de Voo
Aerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota
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