Missão Aérea de 1972 Termina em Um Pouso Inacreditável com o C-119 FAB 2312. Por Luiz Lott
Mais uma história de Aviador Militar. Por Sergio Luiz Lott
UMA PANE ELÉTRICA GRAVE… UM MANDIOCAL… UM MILAGRE…
Um relato marcante de uma vida na aviação. Às vésperas de completar meus 80 anos no dia 23 de outubro (Dia do Aviador) e comemorando o dia de Nossa Senhora Aparecida, quero compartilhar com meus amigos um episódio marcante da minha carreira como aviador.

A missão: transportar índios e uma empilhadeira
Em um longínquo dezembro de 1972, quando servia no GTT (Grupo de Transporte de Tropas) baseado na Base Aérea dos Afonsos – BAAF -, fui designado junto ao Maj. Av. Sérgio Fonseca para uma missão: transportar diversos índios e uma empilhadeira de 5 toneladas de aldeia indígena Santa Isabel do Morro, localizada na Ilha do Bananal–TO para Brasília–DF, a bordo do avião de transporte de carga da Força Aérea Brasileira, o C-119 Fairchild Flying Boxcar.
A aldeia indígena Santa Isabel do Morro (Hawaló), é uma aldeia de índios Iny Karajá que se encontra localizada na Ilha do Bananal, no extremo sudoeste do município brasileiro de Lagoa da Confusão–TO. A aldeia fica situada na margem direita do Rio Araguaia, a apenas 4 km da cidade de São Félix do Araguaia–MT, que fica localizada logo na outra margem do rio. Na aldeia havia na época uma população de cerca de 700 indígenas, sendo uma das maiores aldeias Karajá na Ilha do Bananal
A pane elétrica em meio à tempestade
Ao chegarmos próximos à terminal de Brasília, chovia muito e o aeródromo operava por instrumentos nos mínimos IFR – Regras de Voo por Instrumentos -, é uma técnica de navegação que permite aos pilotos voar em condições de visibilidade reduzida, como chuva, nevoeiro ou voos noturnos. Nesse momento notamos que havíamos perdido todos os instrumentos de navegação por uma grave pane elétrica
Perdemos também os outros instrumentos alimentados pela corrente elétrica como, por exemplo, os indicadores de combustível. Tentamos colocar o inversor elétrico em funcionamento, mas não conseguimos, pois o circuit breaker – O circuit breaker de uma aeronave é um disjuntor elétrico que protege o sistema elétrico do avião contra curtos-circuitos e sobrecargas. Ele é essencial para a segurança e manutenção elétrica da aeronave -, estava saltado (arma e desarma) e não era possível recolocá-lo, pois estava destemperado por excesso de água da chuva
Completamos então o Checklist e não tínhamos mais nada a fazer. Sabíamos que estávamos com pouco combustível e impossibilitados de executar os procedimentos de descida IFR. Ainda tínhamos fonia com o Controle Brasília bem como a Torre de Controle e informamos a nossa emergência e que não tínhamos a nossa exata localização. O Controle então interditou a Terminal e nos deu todo o apoio possível naquelas condições (não havia controle radar naquela época).
O momento de fé e uma inesperada solução
Eu estava operando como 1P (na FAB 1P, significa Piloto em Comando. 2P, significa função de Co-piloto. Não existe Co-Piloto na FAB. Apenas exerce a função. Os dois são Pilotos ou Piloto em Instrução), na cadeira da esquerda, e nesse momento lembrei-me que minha mãezinha sempre me dizia que quando estivesse numa situação difícil e com dificuldades de achar uma solução, rezasse uma Salve Rainha até “mostrai-nos” e logo a solução viria. Dito e feito…
Foi então que surgiu um buraco na camada de nuvens que me proporcionou baixar visual para ver se avistávamos um local para pouso de emergência. Fiquei algum tempo voando à baixa altitude, entre 300ft (aprox. 91 m) e 200ft (aprox. 61 m) até que sobrevoamos um “mandiocal” numa fazenda e não tive nenhuma dúvida de que era a resposta à minha oração. Comunicamos ao Controle que avisasse ao Salvaero que efetuaríamos um pouso “fora de campo” numa fazenda na Terminal Brasília.
O pouso de emergência
Chovia muito e estávamos próximos ao pôr do sol quando fiz a aproximação para pouso. Não tínhamos o limpador de para-brisas e isso dificultou um pouco. Já no início da “suposta pista” surgiu a copa de uma árvore abalroada por nós e logo depois tocamos o solo suavemente com o trem direito, pois eu havia desviado da árvore

Optei por pousar com o trem baixado, pois o terreno era lamacento e escorregadio para um pouso sem trem e o mandiocal não era tão extenso assim. Não pude colocar a bequilha no solo, pois a desaceleração seria muito forte e eu me preocupava com os índios com medo da empilhadeira de 5 tonelada, se desprender e esmagá-los

O avião não sofreria grandes danos se a pista fosse maior, mas, como já disse, era pequena para aeronave daquele porte. Foi então que a pista foi acabando e outras árvores surgiram à frente, fazendo com que eu colocasse a bequilha no solo e acionasse o freio de emergência. Estávamos sem reverso, pois ele só entrava com a bequilha no solo. Nesse momento houve uma desaceleração muito forte, a bequilha quebrou e entrou no cockpit fazendo com que a frente da aeronave se abrisse e esse foi o dano maior e irrecuperável

O milagre na Fazenda Santa Maria
Saímos do avião e sujos de lama e, de mãos dadas a tripulação e os índios, rezamos uma prece de agradecimento. Então vem o “milagre”… o nome da fazenda era: “FAZENDA SANTA MARIA” na localidade de Luziânia–DF de propriedade de Antonio Roriz, um tricolor e primo do governador de Brasília Joaquim Roriz (1991 a 1995 e 1999 a 2002), que nos recebeu com muito carinho e fez questão que comêssemos algo na sua imensa sala de jantar. Então foi isso galera… mais uma história de aviador…
Por Sérgio Luis Lott
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