Concessionária responsável pelo Campo de Marte enviou nota ao AeroJota negando ter destinado área para funcionamento de “balada”
Contexto sobre a matéria publicada pelo AeroJota
Em 28 de outubro de 2025, o AeroJota publicou uma reportagem sobre o uso da área antes ocupada pelo Aeroclube de São Paulo. O texto abordou a transformação do local, que durante décadas foi dedicado à formação de pilotos e à manutenção aeronáutica.
Com o passar do tempo, o espaço começou a receber eventos noturnos de grande porte. Essa mudança, portanto, despertou questionamentos sobre o uso de áreas públicas sob concessão e também sobre a compatibilidade dessas atividades com a finalidade pública do aeroporto. Além disso, o tema gerou intenso debate entre entusiastas da aviação, preocupados com a preservação da memória aeronáutica e com o futuro das escolas de voo.
Eventos realizados no antigo espaço do Aeroclube
A reportagem mencionou dois grandes eventos realizados no local, hoje conhecido como Hangar Clube de Marte. Em 26 de julho de 2025, o espaço sediou a festa AURA, com 15 horas de duração. A programação contou com Sébastien Léger, Roy Rosenfeld, Musumeci, Antrim e Eli Iwasa, reunindo um grande público e ampliando a visibilidade do novo uso da área.
Além disso, em 20 de setembro de 2025, ocorreu o SunsetStrip São Paulo, com mais de seis horas de set do DJ argentino Hernán Cattáneo. Ambas as festas aconteceram na mesma área que, por décadas, abrigou hangares, oficinas e salas de instrução do Aeroclube de São Paulo.
Esses eventos, contudo, reacenderam o debate sobre o uso de um espaço historicamente aeronáutico para fins de entretenimento. Para muitos especialistas, o novo perfil da área descaracteriza a tradição do Campo de Marte, considerado um dos berços da aviação civil brasileira.
PAX Aeroportos contesta a informação
Após a publicação, a PAX Aeroportos, concessionária responsável pela administração do Campo de Marte desde 2023, enviou uma nota de esclarecimento ao site AeroJota. A empresa negou ter autorizado o funcionamento de uma balada e detalhou o histórico contratual da área.
De acordo com a concessionária, toda a configuração de uso já havia sido definida pela Infraero antes da assinatura do contrato de concessão. Dessa forma, a PAX afirma que apenas herdou as condições vigentes, sem alterar licitações nem contratos anteriores.
A seguir, o AeroJota publica a nota na íntegra, preservando o conteúdo original encaminhado pela empresa.
Nota da PAX Aeroportos na íntegra
A PAX Aeroportos, concessionária responsável pela administração do Aeroporto de Campo de Marte desde 2023, esclarece que é falsa a informação de que teria destinado área para funcionamento de uma “balada”.
O Aeroclube de São Paulo manteve, por vários anos, um convênio com a Infraero, por meio do qual recebeu a cessão gratuita de três hangares. No entanto, o Aeroclube cedeu um desses espaços ao Bar Brahma, que passou a utilizá-lo como local de eventos e festas, sem qualquer autorização. O estabelecimento, inclusive, usava o nome “Bar Brahma Aeroclube”.
A Infraero notificou o Aeroclube de São Paulo sobre a ilegalidade da vigência do convênio em outubro de 2015, após procedimento administrativo interno.
Contínua a nota da PAX:
Diante dessa cessão irregular, a Infraero rescindiu o convênio em fevereiro de 2017 e ajuizou ação de reintegração de posse para recuperar as áreas públicas. Quando o bem foi retomado, o espaço já havia perdido sua configuração original de hangar. Em seguida, a estatal promoveu nova licitação, subdividindo a área em partes menores.
Em seguida, acrescenta a nota:
A área antes ocupada pelo chamado Bar Brahma Aeroclube foi licitada com destinação para “lanchonete ou restaurante, com possibilidade de eventos”. A empresa Alien venceu o processo. As demais áreas resultantes da subdivisão também foram licitadas, e um dos hangares foi concedido à Escola de Aviação Civil de São Paulo.
Segue o texto:
Assim, quando a PAX Aeroportos assumiu a administração do Campo de Marte em 2023, toda a configuração de uso já estava definida e formalizada pela Infraero. Coube à concessionária apenas a sub-rogação dos contratos, conforme o contrato de concessão.
Finaliza a nota:
O contrato celebrado entre a Infraero e a Escola de Aviação Civil de São Paulo, em 2022, foi sub-rogado à PAX Aeroportos. Esse contrato chegou ao fim em julho de 2025, após tentativas de renovação sem sucesso. A PAX destaca que nunca manteve qualquer vínculo contratual com o Aeroclube de São Paulo.
Outras escolas de aviação continuam em operação no Aeroporto de Campo de Marte, o que, segundo a concessionária, reforça seu compromisso com o desenvolvimento das atividades aeronáuticas.
Atenciosamente,
Comunicação PAX Aeroportos
Sobre o uso da área
A nota da PAX Aeroportos, no entanto, não respondeu a todos os questionamentos levantados pela comunidade aeronáutica. Ainda permanecem dúvidas sobre os valores cobrados na renovação contratual, os motivos da negativa de continuidade e a falta de diálogo entre Aeroclube e concessionária.
O Aeroclube de São Paulo, com 94 anos de história, formou milhares de pilotos e mecânicos que hoje atuam na aviação civil e executiva. Por esse motivo, diversos especialistas acreditam que uma solução conjunta entre as partes seria o caminho mais adequado. Assim, a tradição aeronáutica poderia ser preservada sem prejudicar o desenvolvimento do aeroporto.
Em 2025, o impasse se agravou ainda mais. A concessionária apresentou valores considerados excessivos para a renovação: primeiro R$ 96 mil, depois R$ 160 mil mensais. Como consequência, o contrato não foi renovado e o Aeroclube recebeu ordem de desocupação da área.
A situação, portanto, repercutiu amplamente e mobilizou autoridades, entidades do setor e profissionais da aviação. Para muitos críticos, a medida afasta o espaço de sua função pública e coloca em risco o futuro da aviação civil brasileira.
Dessa forma, o episódio ultrapassou o âmbito local e passou a mobilizar o setor aeronáutico em todo o Brasil, reacendendo o debate sobre o equilíbrio entre gestão comercial e preservação da história da aviação.
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