Profissão rara piloto brasileiro trabalha como entregador de aviões

Jota

21 de novembro de 2025

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No Brasil temos um piloto que trabalha como entregador de aviões, em uma atividade pouco conhecida, porém essencial para o setor. Essa função, conhecida internacionalmente como ferry flight, exige preparo técnico e adaptações constantes a rotas longas e ambientes operacionais variados. O comandante Mário Jorge Filho, de 33 anos, atua exclusivamente nesse segmento e já realizou entregas que cruzaram África, Europa, América do Norte e Caribe. Ele registra cada missão e compartilha bastidores que mostram a rotina real desse trabalho especializado.

Se você compra um carro ou uma moto, basta ir até a loja e retirar seu bem ou aguardar o transporte no caminhão-cegonha, se for de outra localidade. Entretanto, quando o bem adquirido é um avião comprado em outro país ou até mesmo em outro continente, o processo exige algo totalmente diferente: alguém precisa buscá-lo e trazer voando. É nesse ponto que o trabalho do comandante Mário Jorge Filho ganha relevância, já que ele assume a responsabilidade de trazer a aeronave ao seu destino final.

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Como um piloto brasileiro que trabalha como entregador de aviões planeja suas missões internacionais

Planejar cada entrega exige atenção total ao clima, às normas de cada país e à documentação que autoriza a travessia de fronteiras. Antes de decolar, o comandante analisa meteorologia, define alternados, calcula consumo de combustível e revisa todos os procedimentos alfandegários. Ele já trouxe aeronaves de países como Egito, Islândia, Canadá e Estados Unidos, adaptando cada rota às condições locais. Em algumas missões, viaja com outro piloto; em outras, assume a operação sozinho, conforme a complexidade do trajeto.

Experiência inclui dupla habilitação e ampla formação técnica

O comandante possui habilitações emitidas pela Federal Aviation Administration (FAA), dos Estados Unidos, e pela ANAC, do Brasil. Isso permite que ele opere aeronaves em diferentes jurisdições e em conformidade com regulamentos internacionais. Ele acumula mais de 2.500 horas de voo em comando, divididas entre monomotores e bimotores utilizados em translados. Entretanto, ele ainda não realiza entregas de jatos por restrições relacionadas ao seguro, pois esse tipo de aeronave exige qualificação adicional que ele planeja obter futuramente.

Travessias longas envolvem diferentes culturas, climas e desafios técnicos

As rotas mais longas já realizadas pelo comandante atravessaram paisagens diversas, como regiões desérticas do Egito, áreas geladas da Islândia e trechos tropicais do Caribe. Essas missões exigem atenção constante ao consumo de combustível, verificação de alternados, análise de condições climáticas e cumprimento de normas alfandegárias. Além disso, o piloto destaca que cada entrega envolve longos períodos de concentração, preparo físico adequado e leitura contínua de informações de tráfego aéreo. Dessa forma, o trabalho se torna desafiador e altamente técnico.

Trajetória pessoal e experiência acumulada ao longo dos anos

A paixão pela aviação começou cedo. Aos 18 anos, Mário já possuía sua primeira licença de piloto — antes mesmo de tirar a carteira de motorista. Desde então, acumulou 15 anos de experiência, período no qual realizou pelo menos 28 voos de translado, responsáveis por levar aeronaves recém-adquiridas ao destino final. Cada operação exigiu estudo detalhado da rota, cumprimento de procedimentos específicos e capacidade de lidar com longos períodos de concentração durante as travessias internacionais.

Segundo o piloto, esse tipo de missão exige muito mais do que habilidade para voar. “Não é algo que qualquer piloto pode fazer. Além das horas de voo, é preciso saber lidar com rotas longas, imprevistos e um nível elevado de exigência operacional”, afirma. Ele atua como autônomo e, dessa forma, organiza seu próprio calendário, seleciona as operações que realiza e adapta sua rotina às demandas de cada entrega internacional.

Visibilidade nas redes sociais aproxima o público da aviação

A atividade, apesar de estratégica, ainda é pouco divulgada ao público geral, o que motiva o comandante a registrar rotinas, curiosidades e bastidores das entregas internacionais. Assim, a divulgação ajuda a democratizar informações, amplia o interesse do público pela aviação geral e destaca o papel dos profissionais que atuam nesse segmento.

Por que a atuação de quem trabalha como entregador de aviões é essencial para o setor

O trabalho de quem atua como entregador de aviões revela a complexidade por trás das operações que conectam fabricantes, compradores e países inteiros. A experiência acumulada pelo comandante Mário Jorge Filho demonstra o alto nível de responsabilidade, planejamento e preparo técnico exigidos para transportar aeronaves com segurança por rotas internacionais. Além disso, a visibilidade conquistada pela profissão evidencia sua relevância dentro do setor e reforça a importância desses profissionais na aviação mundial.

Nota

Embora não exista uma norma pública que obrigue a contratação de um piloto especializado para todo translado internacional de aeronaves, o mercado costuma recorrer a profissionais experientes por motivos operacionais, técnicos e de seguro.

Para realizar um ferry flight, é necessário que o piloto tenha licença válida no país de origem da aeronave, conhecimento do modelo que será transportado e, em muitos casos, habilitação para voo por instrumentos (IFR), já que as rotas internacionais podem atravessar diferentes condições meteorológicas.

Além disso, muitos translados envolvem documentação complexa, sobrevoo de vários países e comunicação em aeroportos estrangeiros, o que exige inglês fluente e familiaridade com procedimentos internacionais. Alguns pilotos possuem, também, certificação FAA, o que facilita operações a partir dos Estados Unidos, onde há grande volume de aeronaves à venda.

Por esses motivos, seguradoras e empresas especializadas costumam preferir profissionais com horas de voo significativas, experiência prévia em rotas internacionais e domínio das particularidades técnicas do modelo que será entregue. Quando essas condições não são atendidas, o processo pode se tornar mais complexo e, em determinadas situações, o seguro pode impor exigências adicionais.

Assim, embora não haja obrigatoriedade legal expressa, a contratação de um piloto experiente tende a reduzir riscos e facilitar a logística de importação ou translado de aeronaves.