A hipocrisia pousou em Belém, jatos de luxo, navios, geradores a diesel e a nova taxa climática
Os verdadeiros poluidores da COP30 não estão na classe executiva — e ninguém quer falar disso
As discussões sobre a taxa de solidariedade para passageiros de jatos privados na COP30 ganharam força em Belém (PA) e revelaram um contraste evidente entre o discurso ambiental e a prática das delegações. Embora a conferência defenda compromissos climáticos firmes, diversas autoridades chegaram ao evento usando aeronaves grandes e antigas, conhecidas pelo consumo elevado de combustível e pelas emissões acima da média. Assim, a proposta de taxar passageiros premium passou a ser vista como um mecanismo questionável, já que o próprio evento apresentou impacto ambiental significativo desde o início.
Contradições nas operações aéreas e marítimas da COP30
Logo nos primeiros dias, delegações desembarcaram no Pará utilizando jatos executivos e aviões governamentais de alta emissão. A chegada da comitiva venezuelana em um Airbus A340-600, modelo antigo e muito poluente, reforçou esse cenário. Além disso, a COP30 depende de 160 geradores movidos a diesel para manter parte de sua estrutura, enquanto navios cruzaram o Atlântico vazios apenas para servir como apoio logístico. O deslocamento de uma embarcação de luxo de Manaus até Belém também chamou atenção, já que exigiu consumo elevado de combustível fóssil. Portanto, antes mesmo do início das reuniões, a logística do evento já havia deixado uma marca ambiental considerável.
Impacto ambiental da Avenida Liberdade durante a preparação da COP30
A construção da Avenida Liberdade, que liga trechos estratégicos de Belém e facilita o deslocamento de autoridades durante a conferência, também gerou forte debate. Uma estimativa amplamente divulgada nas redes sociais e citada por algumas reportagens aponta que cerca de 100 mil árvores podem ter sido derrubadas ao longo dos 13 quilômetros da obra. Entretanto, as autoridades não confirmaram oficialmente esse número. O que se sabe, contudo, é que o traçado corta uma Área de Proteção Ambiental e exigiu o desmatamento de uma área florestal significativa. O governo estadual e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente afirmam que o projeto inclui medidas de mitigação e compensação, como o replantio de espécies nativas em outras regiões.
Atuação militar em Belém amplia o debate sobre emissões e contradições
A preparação para a COP30 também envolveu a mobilização de aeronaves e embarcações militares. Caças, cargueiros e navios da Marinha foram deslocados para Belém, além de realizarem treinamentos prévios na região. Essas operações usam grandes quantidades de combustível fóssil e ampliam a pegada ambiental da conferência. Mesmo assim, pouco se discute sobre o impacto desses meios, apesar de protegerem as mesmas autoridades que afirmam que passageiros de primeira classe, executiva ou jatos privados são os principais poluidores. Assim, surge mais uma narrativa, uma contradição que reforça a necessidade de um debate coerente sobre emissões.
A proposta de taxação e os números que sustentam o debate
A taxa de solidariedade na COP30 prevê a cobrança de aproximadamente R$ 3.500 aplicados a passageiros da primeira classe, da classe executiva e usuários de jatos privados. Os países favoráveis defendem que esse valor ajudaria a financiar projetos de adaptação climática em regiões vulneráveis. Estudos apresentados durante o evento estimam que uma aplicação global pode arrecadar até € 78 bilhões por ano, considerando o crescimento dos voos privados e o aumento das emissões dessas cabines premium nos últimos anos. Assim, os defensores argumentam que viajantes com maior pegada ambiental devem contribuir mais com o financiamento climático.
Posicionamento da aviação e críticas ao modelo sugerido
A International Air Transport Association IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo -, rejeita a proposta e afirma que a medida não reduz emissões de forma estrutural. A entidade defende que o programa CORSIA é o instrumento mais efetivo para mitigar emissões de maneira global e padronizada. Segundo o setor aéreo, criar uma taxa paralela gera duplicidade, reduz previsibilidade e dificulta investimentos em combustíveis sustentáveis. Portanto, a crítica central é que o imposto não atua sobre as causas do problema e pode apenas produzir efeitos simbólicos.
Aumento do tráfego aéreo causado pela própria conferência
A movimentação causada pela COP30 também ampliou significativamente o tráfego aéreo regional. Belém registrou aumento de 50% nos voos programados para o período da conferência, conforme dados oficiais. Delegações, ONGs, imprensa e empresários elevaram a demanda aeroportuária e geraram maior consumo de combustível nas operações. O uso contínuo de geradores e a chegada de navios de apoio intensificaram ainda mais a pegada climática do evento. Dessa forma, a conferência que discute redução global de emissões acabou, inevitavelmente, criando um impacto ambiental imediato e expressivo.
Falta de clareza sobre a fiscalização e o destino dos recursos
Outro ponto crítico é a ausência de informações detalhadas sobre a fiscalização dos valores arrecadados com a taxa de solidariedade para passageiros na COP30. Apesar das promessas de investimento em países vulneráveis, ainda não existem mecanismos transparentes de auditoria ou controle. Contradições surgem também dentro da própria ONU, que permite viagens em classe executiva para seus funcionários em trechos longos, inclusive para a COP30. Assim, cria-se um contraste entre a cobrança ao passageiro comum e a manutenção de práticas institucionais que geram emissões maiores.
Conclusão sobre a coerência do debate ambiental
A COP30 trouxe debates importantes, mas também evidenciou contradições que precisam ser enfrentadas com seriedade. A taxa de solidariedade pode contribuir com recursos relevantes, porém não alcançará impacto real sem coerência entre discurso e prática. Enquanto grandes deslocamentos governamentais, estruturas altamente poluentes e operações logísticas intensas permanecem fora da discussão, qualquer nova taxação corre o risco de se tornar apenas simbólica. A aviação trabalha para reduzir suas emissões, mas a transição exige compromisso amplo, transparência e medidas coerentes para todos os envolvidos.
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