O Piloto e sua paixão: O Avião
O piloto e sua paixão…o avião!
Voo Campo Grande-MS- Urubupunga-SP’
Em Campo Grande, altitude de 1.833 pés em relação ao nível do mar, 559 metros, Latitude de 20° 26′ 34″, Longitude de 54° 38′ 47″, temperatura de 15°Celsius aqui no Aeroporto Internacional Antônio João e exatamente 6h10 min de uma sexta-feira, 30 de maio de 2.0…. me preparo para voar na proa de Urubupunga-SP na aeronave monomotor matriculada PT-NHG- EMB-711ST Corisco de motor TSI0 360 FB de seis cilindros, 200 HP de potência nominal, 2.700 RPM, trem de pouso retrátil, peso bruto de 1.203 kg, velocidade de cruzeiro de 282 km por hora com capacidade de 189 litros de combustível. Enquanto aguardo a autorização da Torre de Controle, verifico o cinto de segurança, estudo a carta aeronáutica de destino, dou uma verificada no METAR céu claro com muitas nuvens e alguma nebulosidade, velocidade do vento de 17 km/h na direção 30° Norte, 1° quadrante, pressão barométrica se equilibrando em 1.019 pascais, umidade relativa no ar de 69%, visibilidade em relação ao horizonte de 10 km de vante no momento. Efetuo o ajuste de altímetro do avião que está em 29,92 polegadas de mercúrio ou 1.013 milibares, alinhamento de rádios de comunicação em R1 121,90 mHz Solo CG e R2 121,50 mHz e 118,10 mHz Torre, ajuste de instrumentos de navegação em VOR1-114,20 mHz- Urubupungá-SP – SBUP e VOR2 – 112,80 mHz – Campo Grande-MS – SBCG com compasso magnético de marcação NDB-335 kHz (Urubupungá). Deixo o compensador de profundidade 1°picado e ouço a Torre chamar – Hotel Golf me ouve bem? Respondo-Positivo, cinco por cinco! E a Torre acusa: – Táxi autorizado para pista 06 (60° de azimute em relação ao Norte Magnético) – Respondo: – Ok, Hotel Bravo, Roger (ciente), inicio o táxi de acordo com o comando da Torre na velocidade de 10 nós, sigo atrás de um Boeing 737-800 GOL. Atinjo a posição 3 e estanco a aeronave nos freios e fecho a janela de mau tempo para a decolagem. A Torre informa: Hotel Golf na escuta? Retruco: Positivo, na escuta! E ela diz: – Decolagem autorizada na 06! Efetuo o checklist antes de decolagem, tudo ok, ponteiros equilibrados nos parâmetros verdes de normalidade, inicio a aceleração do motor do meu pequeno caça segurando nos freios, ‘brakes free’ e o avião começa a vencer a inércia e com isso se deslocar para a cabeceira oposta, enquanto isso vou terminando em voz alta para mim mesmo -Called- o Before Takeof Checklist sem saltar nenhum item.
Faço as últimas aferições na posição três pronto para decolagem, autorizado pela Torre de Controle CG começo a corrida na pista 06 para alçar voo após checar os magnetos Left e Right, embandeiramento da hélice, verificar a mistura de combustível, acelero e capo o motor, aciono os flapes para o primeiro dente, tudo OK. Penso no que devo fazer numa pane de decolagem, pode acontecer, quem sabe? O diabo mora no detalhe…
Manetes de hélice e de combustível todas a frente, vou empurrando a manete de aceleração toda adiante também ou no esbarro como se diz em jargão aeronáutico e minha garça vai iniciando a corrida para a decolagem, espero atingir 75 nós (+/-140 km por hora) e traciono com leveza o manche e o Corisquinho deixa o solo, louco para voar, assim como eu, aguardo climb em cima e recolho o trem de pouso, ouço o barulho do mesmo se acomodando no berço, aguardo 600 pés de altitude para estabilizar o avião e recolho os flapes, tomo a proa de 109° escravizado no VOR 114,20 mHz de Urupubunga, dentro de poucos minutos o instrumento de navegação VOR1 irá indicar o rumo certo de marcação de proa do aeroporto SBUP, enquanto isso vou subindo para atingir a altitude de 9.500 pés e diminuindo um pouco a potência do motor e a mistura. Vou trimando o leme horizontal de profundidade para efetuar pouca ou nenhuma força no manche. Continuo subindo a 700 pés positivos, parece que será um dia muito fresco hoje em MS e SP. O VOR de Urubupungá ganha vida, estou a 7.500 pés e subindo. Já efetuei o check de subida, estou perto de nivelar o avião e vou preparando o checklist de cruzeiro estabilizo na altitude em 9.500 pés. O céu está lindo, vou sobrevoando inúmeras fazendas bonitas. Após 40 minutos de voo, na minha proa já vai aparecendo os contornos do imenso Rio Paraná que divide os estados de MS e SP. Sintonizo uma rádio AM de Presidente Prudente-SP no ADF-1-1100 kHz e vou ouvindo ‘Rio de Janeiro’ com Barry White, me lembro dos bons tempos de estudante na cidade maravilhosa. Inicio a descida diminuindo a pressão no motor e a aeronave vai perdendo altitude a 500 pés por minuto.
O Rio Paraná já está próximo, atravessando o rio estarei bem próximo à pista 11 de Urubupungá. Uma grande garça voa ao meu lado um pouco mais baixo e em proa inversa, desejo um bom voo a ela, jogo um beijo, ela fica na paquera me observando e segue seu voo. Estou na vertical do Rio Paraná e a 2.500 pés de altitude, deixo cair a velocidade e comando o trem de pouso, flapeio no primeiro dente, estou com as luzes de navegação e a beacon ligadas, acendo a luz de pouso e as estroboscópicas, flapeio no segundo dente, estou enxergando a pista, coloco-a no vão de minhas pernas, full flapes, a velocidade está em 80 nós, a pista vai crescendo avante, 800 pés…500 pés,…, 300 pés, 200 pés, 100, pés, efetuo o arrendondamento, toco a pista com 65 nós, vou cortando o motor, taxiando à velocidade de 120 nós, recolho os flapes, coloco o altímetro em 1.013 hectoPascais, 29,92 polegadas de mercúrio. Algumas pessoas estão observando a parada do avião no estacionamento e tirando fotografias com o celular, as crianças vibram com meu avião se aproximando delas, freio o avião, aciono o freio de estacionamento, corto o motor e efetuo o check de abandono. A molecada cerca o avião, nem espera eu sair e pedem para entrar na aeronave, lógico que permito. Vou fiscalizar uma obra civil e esperar o almoço para traçar um peixinho fresco e tomar uma cerveja gelada.
Obrigado pela companhia amigo do facebook, tenha um bom domingo e até o próximo voo!
PS: Pouso em fazenda próxima de Urubupunga, o aeroporto está interditado.
Onde têm avião, têm amiguinhos aviadores…!
Tio? Deixa eu e meu primo empurrarmos seu avião com o mecânico? Como não deixar? O amor ao avião já vem tatuado na alma…!
Fique vivo, voe padrão comandante!
Leia o avião; pilote o Manual!
Boa viagem!
Avião não admite erro.
Nunca deixe que um avião leve você para um local onde sua mente não tenha chegado sete minutos antes.
Coluna do Aviador José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de VooAerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.