Avião da Segunda Guerra Mundial ganha praça e vira símbolo de Canarana–MT

Jota

30 de junho de 2025

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O avião da Segunda Guerra Mundial em Canarana–MT, modelo Douglas DC-3, se tornou um dos símbolos mais reconhecíveis da cidade. Desde 1981, a aeronave está exposta na Praça Siegfried Roewer. No entanto, sua trajetória vai muito além da exibição pública. Afinal, ela atravessou guerras, fronteiras e décadas de serviço, conectando-se à história da aviação mundial e ao desenvolvimento do interior do Brasil.

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Fundada em 1972 como um projeto de colonização cooperativista liderado por Norberto Schwantes, Canarana fica no leste de Mato Grosso. A cidade está localizada a cerca de 633 km de Cuiabá e 325 km de Barra do Garças. Em 1975, o local tornou-se oficialmente município e foi emancipado em 1979.

Atualmente, a cidade de Canarana–MT possui aproximadamente 25 mil habitantes. Sua economia é fortemente voltada ao agronegócio, especialmente à produção de soja e milho. Além disso, o comércio e os serviços também crescem de forma consistente. Além disso, os rios Sete de Setembro e Culuene atravessam a região, o que reforça o potencial turístico local. A cidade ainda realiza eventos culturais, festas religiosas e abriga monumentos urbanos — como o famoso avião da Segunda Guerra Mundial.

Da guerra na Europa ao interior do Brasil: a longa jornada do Dakota III

A Douglas Aircraft Corporation fabricou o avião em 1944, nos Estados Unidos. Ele saiu da fábrica com o número de série 12.303 e foi entregue à Força Aérea Americana com o prefixo 42-92496. Poucas semanas depois, a Royal Air Force britânica assumiu a operação da aeronave. A partir desse momento, ela passou a ser conhecida como Dakota III, com o novo registro FZ 697.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o DC-3 operou a partir da base aérea de Leicester East, no Reino Unido. Ali, integrou a 107ª Unidade de Treinamento Operacional e, mais tarde, a 1333ª Unidade de Transporte. Após o conflito, o avião foi transferido para a base de Syerston, onde finalizou sua missão militar. Com isso, abriu-se espaço para que a aeronave seguisse sua jornada em tempos de paz.

Em julho de 1946, uma empresa canadense chamada Canadian Ltd. comprou o Dakota III. Pouco depois, ele chegou ao Brasil para atuar nas Linhas Aéreas Natal com o prefixo PP-JAB. Em dezembro de 1950, a Real Transportes Aéreos absorveu a companhia e rebatizou a aeronave como PP-YPU.

O avião seguiu ativo mesmo após a Varig adquirir a Real, em 1961. Mais tarde, em 1969, a empresa Caraíba Metais S.A., do grupo de Baby Pignatari, comprou o DC-3 e manteve o prefixo. Em maio de 1976, a Cooperativa de Colonização 31 de Março (COOPERCOOL), sediada em Barra do Garças–MT, adquiriu a aeronave para uso regional.

Entre 1975 e 1980, o avião ficou conhecido na região como “A VACA” — sigla de Viação Aérea Canarana. Nessa fase, ele transportou agricultores, técnicos e moradores interessados em participar do processo de colonização do leste de Mato Grosso. Portanto, embora não tenha trazido os primeiros habitantes da cidade, o DC-3 exerceu papel logístico crucial no período de expansão. Assim, ficou definitivamente marcado na memória da comunidade local.

De relíquia da aviação a monumento urbano preservado

O avião encerrou suas atividades em 1980. No ano seguinte, o gerente da COOPERCOOL, Guido Afonso Rauber, apresentou uma ideia ousada: transformar a aeronave em monumento público. Ele se inspirou em uma praça com avião localizada em Canoas–RS. A proposta recebeu apoio imediato do presidente da cooperativa, Bertholdo Grubert, e do administrador municipal, Luiz Cancian.

A Prefeitura Municipal coordenou o transporte da aeronave até o centro da cidade. Como reconhecimento pela história dessa aeronave DC-3, ela acabou ganhando uma praça: a Praça Siegfried Roewer. Desde então, o avião permanece ali, despertando curiosidade e orgulho nos moradores. Ao fim de sua carreira nos céus, ele já acumulava 34.887 horas e 36 minutos de voo. Dessa forma, o monumento tornou-se um marco afetivo e histórico da cidade.

O AeroJota tomou conhecimento do avião graças ao jornalista e morador local Sr. Altemar Dias, criador do canal falaaltemar no Instagram. Membro do Conselho de Cultura do município, Altemar tem proposto ações para restaurar e valorizar o monumento. Além disso, ele defende que o local pode ser aproveitado de forma mais educativa e turística. Caso a proposta avance, o projeto poderá inspirar voluntários e lideranças da cidade.

O avião da Segunda Guerra Mundial em Canarana representa muito mais do que uma peça de museu ao ar livre. Ele simboliza a ligação entre o conflito global, a aviação comercial brasileira e o desenvolvimento regional. Portanto, ao olhar para seu passado e para seu futuro, Canarana tem chance de consolidar o monumento como marco cultural, atrativo turístico e espaço de memória coletiva. Além disso, iniciativas como essa reforçam o papel da história na construção da identidade local. Dessa maneira, o monumento poderá permanecer relevante para as futuras gerações.

Nota editorial e agradecimentos

As informações históricas sobre o DC-3 de Canarana foram gentilmente cedidas por Martin Bernsmüller, pesquisador e ex-comissário da Varig e Lufthansa. Apaixonado por aviação, ele mantém um acervo pessoal com mais de 30 mil fotografias de aeronaves comerciais. Bernsmüller conheceu o avião por meio de uma reportagem do jornal Zero Hora, sobre colonizações gaúchas no Centro-Oeste.

Este conteúdo foi extraído e adaptado do texto original escrito pelos historiadores Arlindo Schwantes e Domingos Finato, publicado em 25 de dezembro de 2010. A versão completa pode ser acessada no blog Pro Memória Canarana.

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