Força Aérea Brasileira

Crise na FAB: evasão de pilotos e médicos ameaça a capacidade operacional da Força Aérea Brasileira.

Desvalorização profissional e melhores oportunidades no setor privado impulsionam saída de militares

A Força Aérea Brasileira (FAB) enfrenta uma crise sem precedentes em 2025, marcada pela saída significativa de pilotos e médicos militares. Nos primeiros três meses do ano, 45 oficiais de carreira deixaram a instituição, incluindo 22 aviadores e 9 médicos, conforme dados divulgados pela Revista Sociedade Militar e pelo portal AeroJota.

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A evasão de pilotos militares tem sido impulsionada por diversos fatores. Nesse sentido, destacam-se quatro causas principais:

Diferença salarial: um primeiro-tenente aviador da FAB recebe, em média, R$ 13 mil brutos. Enquanto isso, pilotos comerciais costumam ganhar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, além de bônus e incentivos. A Latam, por exemplo, ofereceu R$ 80 mil de bonificação aos aprovados em seu processo seletivo de 2024.

Falta de perspectiva na carreira: a progressão profissional dentro da FAB é limitada. Dessa forma, muitos aviadores não enxergam oportunidades reais de crescimento ou de especialização a médio prazo.

Jornadas longas de trabalho: escalas operacionais exaustivas, missões prolongadas e rotinas administrativas intensas exigem grande carga física e mental dos militares. Consequentemente, esse fator tem sido cada vez mais citado como motivo de desgaste e desmotivação.

Obsolescência da frota: a escassez de aeronaves modernas e de recursos para manutenção prejudica a capacidade operacional. Por fim, essa condição também desestimula profissionais altamente qualificados.

A situação dos médicos na FAB também é alarmante. Em 2025, apenas 30% das vagas oferecidas no Exame de Admissão ao Curso de Adaptação de Médicos da Aeronáutica (EA CAMAR) foram preenchidas. Isso demonstra a baixa atratividade da carreira militar para profissionais da saúde.

Das 190 vagas oferecidas para médicos militares, apenas 57 candidatos compareceram para concorrer as vagas.

Os principais motivos são:

Remuneração pouco competitiva: o salário inicial de um médico militar gira em torno de R$ 10 mil mensais brutos. No setor privado, por outro lado, a remuneração costuma ser significativamente superior.

Carga de trabalho elevada: médicos militares lidam com plantões longos, escalas intensas e deslocamentos frequentes. Esses fatores afetam diretamente a qualidade de vida desses profissionais.

Falta de reconhecimento profissional: a carreira médica na FAB é frequentemente percebida como desvalorizada. Por esse motivo, muitos optam por oportunidades mais vantajosas no mercado civil.

A saída de pilotos e médicos prejudica diretamente a prontidão operacional da FAB. Além disso, compromete o atendimento médico interno e representa desperdício de recursos públicos empregados na formação desses profissionais.

Como consequência, a eficiência das missões sofre impacto, o que aumenta os riscos à soberania nacional e à segurança das operações aéreas.

A FAB precisa adotar medidas concretas para conter a evasão e recuperar a confiança dos seus profissionais. Algumas ações são indispensáveis:

Revisão da política salarial: é necessário equiparar os vencimentos dos militares aos valores praticados no mercado civil, tornando a carreira mais atrativa.

Melhoria das condições de trabalho: investimentos em infraestrutura, modernização da frota e melhorias nas unidades de saúde são fundamentais.

Valorização profissional: implementar políticas de reconhecimento, promoção e formação contínua ajudará a manter talentos e elevar o moral da tropa.

Além dos fatores salariais e estruturais, outro ponto que vem sendo mencionado por militares da ativa e da reserva é o crescente sentimento de abandono por parte do alto comando das Forças Armadas. De modo geral, muitos oficiais relatam frustração com a falta de representatividade e diálogo dentro das próprias instituições.

Na Força Aérea Brasileira, o contraste entre unidades operacionais e o Grupo de Transporte Especial (GTE) tem gerado desconforto. Enquanto diversas áreas enfrentam cortes orçamentários severos, o GTE — responsável pelo transporte de autoridades e ministros — segue operando com prioridade e pleno funcionamento, 24 horas por dia, até para missões particulares e de cunho de lazer.

Como resultado, essa disparidade alimenta o sentimento de que os recursos estão sendo direcionados para fins políticos, em vez de atender às necessidades operacionais da FAB e da tropa. Além disso, a percepção de que não há esforço institucional para reverter esse quadro aumenta a evasão, especialmente entre oficiais jovens que esperavam uma carreira mais alinhada com os valores de missão e comprometimento.

Por consequência, cresce o número de militares que desistem de permanecer na força, não apenas por questões salariais, mas também por desilusão com o cenário militar e politico atual.

A Marinha do Brasil enfrenta uma situação semelhante. Entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025, ao menos 18 oficiais, incluindo Capitães-Tenentes e Capitães de Corveta, solicitaram desligamento. Nesse grupo, muitos profissionais possuíam especializações críticas para a força naval.

Nesse contexto, as principais causas apontadas são:

  • Salários defasados em relação ao setor privado;
  • Aumento do tempo exigido para aposentadoria;
  • Ausência de políticas eficazes de valorização profissional.

Como efeito colateral, essa tendência preocupa especialistas e compromete áreas estratégicas da Marinha, como engenharia naval, submarinismo e operações de superfície.

O Exército Brasileiro também tem registrado aumento de evasão nos últimos anos. De 2015 a 2024, Marinha e Exército perderam juntos mais de 5.200 militares antes da aposentadoria.

Somente em 2023, o Exército registrou 346 pedidos de desligamento voluntário. Além disso, a expectativa é que os números de 2024 sejam ainda maiores, e 2025 não irá ficar atrás,

Entre os fatores mais citados estão:

  • Jornadas de trabalho exaustivas e falta de previsibilidade;
  • Redução de benefícios após a reforma da previdência de 2019;
  • Remuneração considerada pouco competitiva frente a outras carreiras públicas.

Diante desse cenário, cresce a preocupação com a manutenção da força de trabalho qualificada no Exército. Consequentemente, a evasão recorrente ameaça áreas estratégicas e pode comprometer a continuidade de operações essenciais.

A evasão de profissionais nas Forças Armadas Brasileiras já não é um problema isolado. Atualmente, além da Força Aérea, Marinha e Exército também enfrentam dificuldades para manter seus quadros.

A causa é multifatorial: envolve salários, carga de trabalho, falta de reconhecimento e mudanças nas regras de aposentadoria. Dessa forma, a crise não pode mais ser ignorada pelas autoridades competentes.

Para conter esse avanço, será necessário repensar a estrutura de valorização dos militares, garantindo condições mais atrativas e sustentáveis para permanecerem na carreira.

Em resumo, a valorização dos profissionais das três Forças é essencial para assegurar a continuidade das operações, a segurança da população e, sobretudo, a soberania nacional.

Para você ler a matéria por completo no link da Revista Sociedade Militar, clique AQUI

AeroJota

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