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O C-47 da FAB Matrícula 2015, era o pai da criança / Piloto de Avião José Passarelli

Em homenagem a esse avião que ajudou a me salvar, meu filho irá se chamar Douglas

O C-47 FAB 2015 era o pai da criança

Início da década de 70, era um domingo de carnaval, meu pai Germano Barros de Souza era médico e coronel Diretor do Hospital Geral Militar de Campo Grande – HGMCG-MT, morávamos na Vila Militar – Bairro Amambaí. Eu com mais sete amigos, também filhos de oficiais do Exército tínhamos passado a noite nos clubes, Círculo Militar e Rádio Clube. Voltamos a pé do centro da cidade, o dia já começava a nascer, cheguei em casa, driblei dois soldados da PE – Polícia do Exército que faziam o patrulhamento, pulei o muro sem o velho me ver, entrei pela janela de meu quarto que deixei entreaberta, tomei banho de água fria e me deitei, exausto de tanto pular carnaval, namorar e tomar cervejas.

Eram 5h30min, não tinha dormido nem 10 minutos e o coronel bateu na porta já fardado: – Acorda! Temos uma emergência! Resmunguei: – Emergência pai??? Ele respondeu:- Movie…movie…movie…! Vestido em 5 minutos! Perguntei meio sonolento: – Quantos minutos pai? E ele responde: – Agora só 3 minutos! Ele tinha recebido um telefonema do oficial de dia do hospital militar, relatando-lhe que um sargento do Forte Coimbra tinha saído para uma caçada e foi picado na canela direita por uma cobra jararaca. Meu pai era carne e unha com o coronel-aviador José Hélio Macedo de Carvalho, na época, comandante da Base Aérea de Campo Grande. Ambos nordestinos, meu velho de Gilboes, Piauí, e o Macedinho de Crato, Ceará, os dois se tornaram grandes amigos. Vivíamos o regime militar, os quartéis eram super vigiados.

O velho ligou ao coronel Macedo e solicitou um avião para seguir para Forte Coimbra com urgência. O coronel Macedo perguntou ao meu pai: – Germano, você que vai buscar o sargento? O velho respondeu: – Sim Macedo, o caso é muito grave, por que? Macedinho respondeu: – Então eu vou no comando do avião! Vamos juntos, é o Douglas C-47 Skytrain matrícula FAB 2015 do comando, vou mandar prepará-lo imediatamente! O velho agradeceu.

Perguntei ao meu pai: – O que vou fazer lá pai, cheguei do carnaval agora, estou com muito sono! Olhou para mim mais sério que bode embarcado e disse: – Posso precisar de você, já o problema de seu sono é coisa de vagabundo que passa à noite em carnaval! Durma semana que vem…! Azar seu, prepare-se, tem 1 minuto agora…movie…movie…movie…seu bosta!

Minha sorte foi que dormi até o destino nos incômodos bancos laterais do avião, o barulho dos 2 motores radiais Pratt & Whitney R-1830-90C Twin Wasp de 14 cilindros e 1.200hp cada era infernal, aterrissamos em Forte Coimbra com o coronel Macedo no comando, tendo meu amigo segundo- tenente Wagner de 23 anos como copiloto. Estava garoando, meu pai, além de mim levou um médico militar, um sargento enfermeiro, um cabo também enfermeiro e um soldado de saúde. No campo de aviação do Forte já estava o sargento em uma maca dentro de uma ambulância aguardando. Colocamos a maca dentro do avião e a imobilizamos. Quando vi o tamanho do inchaço que estava a perna do sargento, achei que ele não sobreviveria o voo de retorno até Campo Grande.

Mas me enganei, decolamos com o glorioso e querido C-47 Dakota USA instantaneamente. O velho e sua equipe vieram aplicando soro ao sargento e outras medicações de emergência, adequadas para aquele histórico durante o voo. Chegamos bem, porém com chuva e vento de través na pista 06.

O sargento foi internado no hospital militar, recuperou-se lentamente e teve alta. Semanas depois, jâ melhor, fez um almoço em sua residência e convidou meu pai e o coronel Macedo com suas respectivas famílias. Antes do início do churrasco, o sargento solicitou a palavra e disse: – Nasceu o meu primeiro filho, e em homenagem por tudo que fizeram para salvar minha vida, quero colocar o nome do garoto de Douglas em homenagem ao glorioso avião que me deu a vida novamente!

Muito obrigado a todos!

PS: Meses após essa ocorrência, o coronel-aviador José Hélio Macedo de Carvalho e o segundo-tenente Wagner pereceram no comando no acidente com o Buffalo C-115 FAB em Ponta Porã-MT.

Crédito das fotos: Foto de Capa e interna: Agência Força Aérea – Tenente Enilson
Demais fotos: Internet sem crédito.

* Leia o avião; pilote o manual!

Boa viagem!

Avião não admite erro.

Nunca deixe que um avião leve você para um local onde sua mente não tenha chegado sete minutos antes.

Coluna do Aviador José Passarelli 
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de VooAerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.

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