Voando baixo pelo Altímetro – Aviador José Passarelli

Avião não admite erro

Voando Baixo pelo Altímetro

Era a terceira perna de uma longa viagem de três dias na cabine do Hércules C-130 FAB e já estávamos lendo o ‘checklist’ preliminar de aproximação, com o altímetro ajustado e escravizado em 30.22 polegadas de mercúrio (1.024 hPa) (hectopascais). Isso me parecia meio estranho, pois estávamos ingressando numa área de frente fria. Mas eu estava ocupado com plotagens de rumo e não quis debater o assunto com o comandante.

Na aproximação final, tudo estava normal até um pouco antes do fixo de aproximação final. Quando furamos a camada de nuvens, o solo parecia estar muito perto. Chequei a altitude e estávamos exatamente no perfil da aproximação ILS (voo por instrumentos). Pedi ao comandante que checasse o ajuste de altímetro com a Torre do Galeão-RJ e, então, tivemos uma grande surpresa: o ajuste era de 29.22 (989 hPa) e não 30.22, o que nos deixou cerca de 1.000 pés (300m) mais baixo durante a aproximação para pouso. O incidente citado é um dos vários que acontecem quando a tripulação se engana em ajustar o altímetro para QNH, que é a estação reduzida ao nível do mar sob condições de atmosfera padrão (1hPa/30 pés).

Portanto, ‘a aferição incorreta do altímetro causa desvios de altitude suficientemente perigosos para resultar em colisões com o solo’ ou até acidentes CFIT-Controlled Flight Into Terrain (voo controlado contra o solo).

Fique vivo, voe padrão comandante! 

Leia o avião; pilote o Manual!
Boa viagem!

Avião não admite erro.
Nunca deixe que um avião leve você para um local onde sua mente não tenha chegado sete minutos antes.

Coluna do Aviador José Passarelli

Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de VooAerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.