O melhor e ilustre amigo, o cachorro Capitão!
![](http://aerojota.com.br/wp-content/uploads/2023/11/1-145.png)
“Pensar nos aproxima”
‘O comandante e o cão’
Todo homem tem um destino e os animais seguem esse rito também.
Em 197…meu pai era coronel médico clínico geral Diretor do Hospital Geral Militar de Campo Grande-MT-HGMCG , morávamos na casa de esquina em frente ao hospital na Vila Militar no Bairro Amambaí.
Certo dia bem cedo apareceu um cachorro amarelo vira-lata, de uns seis meses no máximo, de médio porte, certamente abandonado, que resolveu ficar deitado na calçada de minha casa, simplesmente deitou e ali permaneceu. Subi no ônibus escolar do exército que transportava os filhos de militares para os colégios por volta das 6 horas. Quando retornei ao meio dia, notei que o animal continuava no mesmo lugar em que chegou pela manhã, deitado, triste por algum motivo desconhecido. Conversei com meu pai, ele disse: – Ele deve estar cansado, veio de longe, coloque água e dê algo para ele comer, mas não deixe entrar, sua mãe não vai gostar. Fiz o que ele mandou, após beber água e se alimentar, o cachorrinho já estava mais alegre e mostrou seu primeiro abano de rabo de satisfação.
Dormiu ali fora na calçada e no outro dia cedo seguiu meu pai que ia a pé para o quartel, pois era só atravessar a avenida Duque de Caxias. Entrou nas dependências da guarnição militar e meu pai ordenou que um soldado trouxesse o cachorro de volta e o colocasse na calçada onde ele ficava.
Ao chegar do Colégio Salesiano Bosco, fui observar o animal de perto e verifiquei que ele tinha um olho verde e outro azul, confesso que fiquei interessado pelo vira-lata, nunca tinha visto algo semelhante, será que era vira-lata mesmo? Os dias passavam e ele continuava seguindo meu pai para o quartel todos os dias até que o velho enjoou de mandar alguém trazê-lo de volta.
Logo os soldados colocaram o nome de Capitão e ele passou a frequentar o hospital permanecendo na guarita com os soldados da guarda de comando. Meu pai era durão, não me dava moleza, mas o Capitão amoleceu o coração dele, médico humanitário, passou a morar em minha casa, eu o tratava como irmão. Todos os dias cedo antes de meu pai sair para o quartel, o Capitão dez minutos antes, já estava no rancho do hospital onde a irmã chefe já tinha preparado seu café da manhã com torradas e biscoitos. Todo mundo no Hospital Militar conhecia e respeitava o Capitão, ele xeretava na ambulância, na capela, na oficina, no pavilhão onde ficavam os enfermos, nas salas de espera de médicos e dentistas, nas celas, na enfermaria, no necrotério e no final do expediente vinha no jipe do comando, o soldado motorista e meu pai na frente e o ele no banco de trás. Quando havia festividade militar no hospital, ele desfilava junto com os militares e era muito aplaudido por todos. Muitos soldados antes da baixa, tiravam fotografias com o Capitão como uma lembrança da caserna.
Todos os dias bem cedo, o cãozinho acordava e partia para o quartel, quando ele passava na guarita de comando, os soldados, sargento e oficial de dia já sabiam que no máximo em dez minutos o coronel estaria chegando e a guarda seria montada e a bandeira de comando seria hasteada, era tiro e queda. Quando papai chegava no hospital o Capitão já tinha feito seu desjejum no rancho com a irmã e já estava embaixo da mesa do comandante, ou seja, meu pai. Ficava deitado nos pés do coronel o dia todo, um verdadeiro ordenança.
Foi companheiro de todos nós por doze anos, um verdadeiro soldado, morreu de velho e os militares pediram para meu pai deixar enterrar o Capitão dentro do Hospital Militar em um terreno isolado no canto do muro atrás da capela, bem no fundo. E assim foi feito, o soldado corneteiro do Hospital Militar junto com a guarda formada em posição de sentido e com continência tocou a música silêncio e um dos soldados colocou sobre o túmulo do Capitão um capacete com a cruz vermelha da saúde, unidade militar. Os animais não falam, mas sofrem e amam como nós… A tristeza dos soldados, garotos de apenas 18 anos que com ele brincavam era imensa no enterro do amigo. Naquele canto jaz um dos melhores companheiros que tive na vida e que encantou doentes, militares, civis e até o general de Exército Leônidas Pires Gonçalves, que foi ministro do Exército no governo FHC e que serviu em Campo Grande, foi muito amigo de meu pai. Até esse famoso general acariciou o Capitão.Tive provas de que mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro. Descanse em paz Capitão…
Coluna de JPassarelli
![](http://aerojota.com.br/wp-content/uploads/2023/11/1-116.png)
Cmte. José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de Voo
Aerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota