Em Aviação Pânico mata! Medo Salva!
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Quando os investigadores do voo 447 da Air France começaram a analisar as gravações de áudio da cabine de comando, descobriram grandes indícios de que naquela viagem nenhum dos pilotos tinha modelos mentais fortes.
– O que é isso?’, perguntou o copiloto quando soou o primeiro alerta de estol.
– Não temos…hum…uma boa indicação de velocidade? […] Estamos […] estamos em ascensão?’, respondeu o comandante Pierre-Cedric Bonin.
Os pilotos ficaram fazendo perguntas um ao outro revelaram as caixas pretas, enquanto a crise no avião se agravava porque não dispunham de modelos mentais que os ajudassem a processar novas informações que chegavam. Quanto mais dados recebiam, mais confusos ficavam. Isso explica porque Bonin era tão suscetível à ‘restrição cognitiva’. O piloto não havia passado o voo contando histórias a si mesmo, de modo que, quando aconteceu o inesperado, não soube em quais detalhes focar. ‘- Estou com a impressão que estamos indo absurdamente rápido’, disse ele quando o avião começou a perder velocidade e precipitar-se no mar. ‘- O que você acha?’
E então, quando Bonin finalmente se aferrou a um modelo mental: – ‘Estou em TO/GA, certo?’- , não procurou nenhum fato que contrariasse esse modelo. ‘- Estou em ascensão, ok, então estamos descendo’, disse ele, dois minutos antes de o avião cair, aparentemente alheio à contradição do que havia falado. – ‘Ok, estamos em TO/GA’, acrescentou. ‘- Por que continuamos indo direto para baixo?’
– Isto não pode ser verdade’, disse ele, segundos antes de o avião colidir com a água. E, em seguida, suas últimas palavras, que fazem todo o sentido do mundo quando se percebe que Bonin continuava procurando um modelo mental útil enquanto o avião se projetava rumo às ondas.
– Mas o que está acontecendo?’
Evidentemente, o problema não é exclusivo dos aviadores do voo 447.
Começamos com um humano criativo, flexível e habilitado a resolver problemas e um computador de bordo relativamente burro que é eficiente em tarefas mecânicas repetitivas, como monitoramento. E aí deixamos o computador burro pilotar, e os humanos, capazes de escrever romances, conceber teorias científicas e pilotar aviões, ficam plantados diante do computador esperando alguma luz acender. Sempre foi difícil aprender a ter foco.
E agora mais ainda.
Fique vivo, voe padrão comandante!
Leia o avião, pilote o Manual!
Avião não admite erro.
Nunca deixe que um avião leve você para um local onde sua mente não tenha chegado sete minutos antes.
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Aviador José Passarelli
Engenheiro Cívil
Professor Universitário
Instrutor de Navegação Aérea
Teoria de VooAerodinâmica em Voo em Escolas de Aviação Civil
Escreve voluntariamente para o site AeroJota.